Mulher
Edigles Guedes
Mulher: proibido pecado serpentoso,
Saboroso fruto do precário paraíso?…
Se tu soubesses o quanto és cruel,
Certamente mudaria esse mel
Que tem tuas serventias de pernas
Acrobáticas. Minha beldade, tu me deixas
Desmemoriado de tanta louçania,
Como um ingênuo pavão cheio de penas.
Mulher: arcaicas mãos e beijos! Tu me deixas
Deveras encabulado. Eu não dou acordo de mim,
Já não sei, realmente não sei, se é noite ou dia,
Lá fora. O tempo traspassa devagar.
Rege o ditado que mulher de bigode
Nem o próprio diabo pode.
Mas quando a mulher depila as pernas,
As sobrancelhas, o púbis,
E desliza mais que navalha ou gilete
Na mão do barbeiro de Sevilha…
Rossini que o diga!…
Então, a mulher passa manteiga
No focinho de gato, pinta o sete.
E o homem se rende aos seus pés,
Como os troianos se renderam a Helena,
Como Lampião se rendeu a Maria Bonita,
Como qualquer homem geme e treme
Quando a mulher coloca suas unhas de fora,
E fere seu sorriso de escárnio.
Mulher sempre tu mal-me-queres,
Pois vejo em teus olhos de Eva o embuste;
De Capitu, os olhos oblíquos, de cigana.
Ah! mulher, tu és um mundo intransponível
De ambiguidades. Mas no mundo o que não é ambíguo?
O rio e o mar são ambíguos,
O cais e o porto são ambíguos,
Capitu e Eva são ambíguas —
Tu, mulher, és cream-craker e ambígua!…
Por isso, é bom demais recostar a fronte
No teu colo ambíguo, e deitar a cabeça
Em mil e uma noites dúbias de amor!…
Recife, 19-6-2004.
Mulher: proibido pecado serpentoso,
Saboroso fruto do precário paraíso?…
Se tu soubesses o quanto és cruel,
Certamente mudaria esse mel
Que tem tuas serventias de pernas
Acrobáticas. Minha beldade, tu me deixas
Desmemoriado de tanta louçania,
Como um ingênuo pavão cheio de penas.
Mulher: arcaicas mãos e beijos! Tu me deixas
Deveras encabulado. Eu não dou acordo de mim,
Já não sei, realmente não sei, se é noite ou dia,
Lá fora. O tempo traspassa devagar.
Rege o ditado que mulher de bigode
Nem o próprio diabo pode.
Mas quando a mulher depila as pernas,
As sobrancelhas, o púbis,
E desliza mais que navalha ou gilete
Na mão do barbeiro de Sevilha…
Rossini que o diga!…
Então, a mulher passa manteiga
No focinho de gato, pinta o sete.
E o homem se rende aos seus pés,
Como os troianos se renderam a Helena,
Como Lampião se rendeu a Maria Bonita,
Como qualquer homem geme e treme
Quando a mulher coloca suas unhas de fora,
E fere seu sorriso de escárnio.
Mulher sempre tu mal-me-queres,
Pois vejo em teus olhos de Eva o embuste;
De Capitu, os olhos oblíquos, de cigana.
Ah! mulher, tu és um mundo intransponível
De ambiguidades. Mas no mundo o que não é ambíguo?
O rio e o mar são ambíguos,
O cais e o porto são ambíguos,
Capitu e Eva são ambíguas —
Tu, mulher, és cream-craker e ambígua!…
Por isso, é bom demais recostar a fronte
No teu colo ambíguo, e deitar a cabeça
Em mil e uma noites dúbias de amor!…
Recife, 19-6-2004.