Postagens

Mostrando postagens com o rótulo Amor

Cristalino

Eu distingo teu rosto Cristalino de mágoas. Antes que fosse rosto De melhor cristalino, Que pinte o desfortúnio Com tinta mais fortuita De pintor conhecido Por incógnito estilo Da crítica ferida. Quiçá ser cristalino Do mar e suas águas, Que me ensaboam; pranto De suor, sal e sol; Dia vindouro: porto, Onde atraca pavio, Curto ou comprido; olvido, C onforme cruz de enxeco, Que cada qual carrega. Quiçá de cristalino O rio e suas águas, Que me banha de seu O sangue demais doces, Que me banha intestino De quem profuso falta, Por amor ou calar, Derradeiro perdoar. Quiçá do cristalino Que existe no metal, No metal rija faca, Que tanto me consterna, Quanto me sarapanta, Em sua baba de fúria, Em sua boba lamúria, Em sua boca a secura. Quiçá esse cristalino, Que existe no cristal, De nome ou exercício, Sem outro de si igual: Impermisto, acessível, Carrasco por mingau, Que na boca dilui A coisa que era tal. Porém, não! No teu rosto Havia o cris...

Sôfrego e Trôpego

No primeiro bar de esquina, Hoje, inda hoje, te prometo Solenemente, de pés juntos, Mão deitada sobre a Bíblia, Como fazem nos tribunais. Vou encher a cara de poesia, Vou tomar todos os porres poéticos, E chegar em casa trambecando, Como fazem as moscas ébrias. E a cada passo claudicante, Entupirei os esgotos da rua, Com meu vômito mudo de poemas. E me lambuzarei todo em meu próprio E descabido vômito, Como fazem os porcos, Por amor surdo à lama, Porque só assim eu me vingarei do mundo… Mundo que só me deu duas coisas: — Escarro e gripe! Mas, eu também não fui santo, Devolvi-lhe o melhor de mim: — Este cuspe sôfrego E este poema trôpego! Autor: Edigles Guedes.

Pássaro

Cuido que não sucedeu manhã, Se bem que um pássaro chilreou. Janela sonsa que despertou O Sol de sua órbita celeste. A meu ver, não sucede manhã, Porquanto meus olhos se baldaram De tuas lágrimas, que escorriam Da tua fronte afora, caindo No meu regaço, abrigo de bruta Falácia; tu, porém, não te deixas… O engodo em boca desvanecer. O Sol, fulgente e bravo, por sorte Enxerga o teu rosto tão regado Das águas — mordem as duras mágoas! O astro, veraz na constelação, Estreita as mãos para te abraçar. Chamejo os ciúmes, e cuspo a fúria, Desato o fogo, trovão de amor. Digo-te o quê? Pássaro chilreante? O simples: não o vi, tão somente Escuto um lindo cicio de canto, Deitado à casa com sua janela. Autor: Edigles Guedes.

Ulisses e a Dama do Laço

Chamo-te infinitas vezes pra dentro Do quarto, dormir, calma das mobílias. E vezes infindas me denegaste O vir para meus braços tão carentes… Carentes de quem? Ah! Dama do laço… Por que me negaste o vir para meus Braços, se te chamam fragosamente? Como chama ou flâmula tão pequena, Mas que me formiga, meiga morena E sirena, serena da sereia De Homero, olvido na estante de casa. Ah! Ulisses de volta ao deleite, leito Com muito amor… Amor por sua Penélope, Amor por Ítaca; e Ítaca conserva-se Tão longe, que pena o coração doído; E Penélope está tão longe, longe, É somente um nome perdido ao vento, Que sussurra logo um pedido isento. Ah! Esse Ulisses largou de uma existência Com riscoso riso na prateleira… Autor: Edigles Guedes.

Quando te vi…

Quando te vi, meu coração disparou Desembestadamente, cavalo afoito Por campo verdejante e dia luzente. Minto, não te vi, pois estava tão cego De amor, que desmaiaram as minhas vistas No teu colo sereno, seixo e flautista. Autor: Edigles Guedes

Mágoa

(Rondó I) Dura mágoa que levou Doce amor de mãos mimosas. Ah! Não leve sonsas rosas, Distrações por mim colhidas. Ela nutre grã donaire. Ela goza do cetim Boa pele de carmim; A aparência, cor de vida. Quando a vi, céticos olhos Dilataram. É miragem? Ou tardia e fátua imagem Por meu cérebro tecida? Dura mágoa que levou Doce amor de mãos mimosas. Ah! Não leve sonsas rosas, Distrações por mim colhidas. Ela sorve puro incenso. Ela troça da selvagem Iracema, a índia jovem; A decência, decidida. Quando a vi, célebres olhos Ponderaram: — É delírio? Ou um cisco de colírio, Ou já musa esquecida? Dura mágoa que levou Doce amor de mãos mimosas. Ah! Não leve sonsas rosas, Distrações por mim colhidas. Ela frustra meu suplício E degusta o mel da boca, Com sabor de soez pipoca; A elegância, dor de lida. Quando a vi, erráticos olhos Proclamaram: — É quimera? Ou outra sombra de megera Por meu âmago urdida? Dura mágoa que levou Doce amor de mãos mimos...