Cristalino



Eu distingo teu rosto
Cristalino de mágoas.
Antes que fosse rosto
De melhor cristalino,
Que pinte o desfortúnio
Com tinta mais fortuita
De pintor conhecido
Por incógnito estilo
Da crítica ferida.

Quiçá ser cristalino
Do mar e suas águas,
Que me ensaboam; pranto
De suor, sal e sol;
Dia vindouro: porto,
Onde atraca pavio,
Curto ou comprido; olvido,

Conforme cruz de enxeco,
Que cada qual carrega.

Quiçá de cristalino
O rio e suas águas,
Que me banha de seu
O sangue demais doces,
Que me banha intestino
De quem profuso falta,
Por amor ou calar,
Derradeiro perdoar.

Quiçá do cristalino
Que existe no metal,
No metal rija faca,
Que tanto me consterna,
Quanto me sarapanta,
Em sua baba de fúria,
Em sua boba lamúria,
Em sua boca a secura.

Quiçá esse cristalino,
Que existe no cristal,
De nome ou exercício,
Sem outro de si igual:
Impermisto, acessível,
Carrasco por mingau,
Que na boca dilui
A coisa que era tal.

Porém, não! No teu rosto
Havia o cristalino
Que se extravia em mágoa:
Cerca de pio pingo,
Cerca viva de gota
Na lágrima do rio,
Cerca amiga que corta
A goela de quem canta!

Autor: Edigles Guedes.



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