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Sôfrego e Trôpego

No primeiro bar de esquina, Hoje, inda hoje, te prometo Solenemente, de pés juntos, Mão deitada sobre a Bíblia, Como fazem nos tribunais. Vou encher a cara de poesia, Vou tomar todos os porres poéticos, E chegar em casa trambecando, Como fazem as moscas ébrias. E a cada passo claudicante, Entupirei os esgotos da rua, Com meu vômito mudo de poemas. E me lambuzarei todo em meu próprio E descabido vômito, Como fazem os porcos, Por amor surdo à lama, Porque só assim eu me vingarei do mundo… Mundo que só me deu duas coisas: — Escarro e gripe! Mas, eu também não fui santo, Devolvi-lhe o melhor de mim: — Este cuspe sôfrego E este poema trôpego! Autor: Edigles Guedes.

Soco Poética

Eu amo um soco bem-dado; Não amo o soco dos pugilistas, Nem amo o soco dos lutadores De vale-tudo, nudez dos corpos. Jamais! São socos prosaicos, Com muito sangue espirrando, Com hematomas à flor da pele. — Desperdício de violência Gratuita e barata de fim de Semana, com curtição às tantas! O soco que eu amo, De cor e salteado, É o soco do chinês. Que soco tão poético! Tira a gente do chão, Faz viajar por espaço infindo, E, depois, joga-o na cadeira Abaixo, estupefacto: sem Fôlego, sem sangue jorrar, sem Hematoma, sem violência — Tão somente um borrão De soco, e nada mais… De fato, imperceptível Às câmeras de vídeo! Intangível ao tato Tartamudo das horas! Poesia é assim, não Se rende aos olhos nus, Nem aos microscópios Das inteligências alheias; Todavia, põe cabisbaixo O sujeito, depois de um longo Passeio pelo espaço, Aliás, destrançá-lo Da poltrona do chão! Autor: Edigles Guedes.