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Rabiscos no Livro

Hoje, fui bater pernas, Como quem não quer nada; As pernas automáticas Me levaram ao sebo, Onde se vende uns livros Puídos, ora mofados, Ora sujos de poeira Antiquíssima, pois, Perdida por aurora Em tempos tão distantes. Me encantei pela capa, Fútil livro qualquer, Tudo indica que velho, Rabugento, matreiro, Solto às traças das horas, Dado às baratas sérias, Que passeavam sórdidas Nas prateleiras bambas De pés, sem a firmeza De costume ou destreza. Minha mão claudicante Pousou naquelas páginas Tão empalidecidas… Ao meu toque de bruto Ogro, desabrochou A flor deslumbradora Das letras cativantes. Rendi-me, então, pasmado: Duro piscar de pálpebras, Comprei o livro. Súbito, Arrochei minhas vistas Numa pequena mácula; Aliás, não era mácula, Mas, sim, miúdos rabiscos Na introdução do livro. Meu coração padece, De furta-dor, me sinto Como quem levou pito. O vendedor passou-me A perna, vendeu gato Por lebre. Nada obstante, Ao reparar no traço, Q...

Inteiro

Ah! O conceber-me por inteiro, Quando, em verdade, sou metade Da metade do inteiro fútil, Que não sou. Nunca inteiro sonho Em ser; se não me cabe, ponho Na fronte aquele inexpressivo Til, como tal chapéu de palha Do campônio tão vespertino. Ah! O cindir-me entre inteiro e não, Que não cabem nos livros vesgos De matemática, de páginas Marcadas, ressabiados, frustros, Orelhas queimadas por dedos Lépidos, ao virar a folha Qualquer, de medo ou avidez. Medo que o dia acabe em nada, Sem leitura na tabuada Dos números da fina vida. Avidez de quem sofre a gula Dos segundos tão raros, díspares. E eu que não sou veraz inteiro, Cheio de muitas e lutas lástimas, Vivo de rastejar meu corpo Por entre ruas e tetos caros, Por drope flor espezinhada E jardim tão despedaçado!… Espatifado por patifes, Que desconhecem o prazer Do singelo cheiro da flor!… Ruge coração por amor, Que se foi, sem dizer adeus, Sem ponto final, sem o Nada! Autor: Edigles Guedes.