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Sorriso e Motor

Demais desejo O teu sorriso de mobília Inteira, sem faltar um pedaço Sequer do fruto consentido De poucos beijos. A solta e voa cabeleira, por janela Do carro a cento e tantos quilômetros por hora, Até que pneu derrapa, e a gente bota o pé no mundo. Mas morre não. Que susto da vida! Motor suspira. Autor: Edigles Guedes.

Inteiro

Ah! O conceber-me por inteiro, Quando, em verdade, sou metade Da metade do inteiro fútil, Que não sou. Nunca inteiro sonho Em ser; se não me cabe, ponho Na fronte aquele inexpressivo Til, como tal chapéu de palha Do campônio tão vespertino. Ah! O cindir-me entre inteiro e não, Que não cabem nos livros vesgos De matemática, de páginas Marcadas, ressabiados, frustros, Orelhas queimadas por dedos Lépidos, ao virar a folha Qualquer, de medo ou avidez. Medo que o dia acabe em nada, Sem leitura na tabuada Dos números da fina vida. Avidez de quem sofre a gula Dos segundos tão raros, díspares. E eu que não sou veraz inteiro, Cheio de muitas e lutas lástimas, Vivo de rastejar meu corpo Por entre ruas e tetos caros, Por drope flor espezinhada E jardim tão despedaçado!… Espatifado por patifes, Que desconhecem o prazer Do singelo cheiro da flor!… Ruge coração por amor, Que se foi, sem dizer adeus, Sem ponto final, sem o Nada! Autor: Edigles Guedes.

Liquidificador e Suco

Exprimir-me, como esse liquidificador… Sentir-me completo, vasto e tão vulgarmente útil… Tirar-me os grilhões, que me atam ao chão, que prolongue… Sacudir-me a roupa, jogando o pó para longe… Perder-me inteiramente num proferido soco… Achar-me, no mínimo, as partes num esculpido… Extrair o delicioso suco De intragável fruta, manhã fútil… Fútil vida de quem merece alto Os haustos da delinquida aurora… Regato rumoreja os tardios Passos da água por rocha, com brios… Autor: Edigles Guedes.