Aprende
Edigles Guedes
Todo o Mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Luís de Camões, Soneto 45.
Aprende:
A mão que beija a tua face espalmada, hoje,
Não é a mesma mão, amanhã, que te belisca uma bofetada;
O pé que tu acaricias com tanto desvelo e zelo, hoje,
Não é o mesmo pé que te lança, amanhã, um sorriso de pontapé;
O corpo que tu amas sem leviandade alguma e o deitas em tua cama de marfim,
Não é o mesmo corpo que tu flagras na cama do vizinho, aos gritos de motociclista
No Globo da Morte, em gemidos escandidos pelas sílabas do silêncio empurrado.
Aprende:
Nem os dedos da mão da gente são iguais, um
É maior, outro é menor, estoutro é médio, essoutro é sadio,
Aqueloutro é doentio;
Resigna-te em não conhecer as pessoas, como tu não conheces o manuscrito
Jogado na lata do lixo, ontem. Descartável, que era, se foi.
Não te disse adeus, não te chorou a ausência, não te feriu a endez da solidão.
Simplesmente, foi jogado intempestivamente na lata do lixo.
São assim as pessoas: elas sofrem dessa viuvez de comunicação, mal abrem a boca
Para te desejar um bom dia ou uma boa tarde, ou uma boa noite.
Conforma-te em te debruçar na janela, com a tua miopia de continentes longínquos,
E divisar o homem provinciano que tu és.
Jeca Tatu na acidez do dia limpo e límpido.
23-2-2010. 23h 13.
Todo o Mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Luís de Camões, Soneto 45.
Aprende:
A mão que beija a tua face espalmada, hoje,
Não é a mesma mão, amanhã, que te belisca uma bofetada;
O pé que tu acaricias com tanto desvelo e zelo, hoje,
Não é o mesmo pé que te lança, amanhã, um sorriso de pontapé;
O corpo que tu amas sem leviandade alguma e o deitas em tua cama de marfim,
Não é o mesmo corpo que tu flagras na cama do vizinho, aos gritos de motociclista
No Globo da Morte, em gemidos escandidos pelas sílabas do silêncio empurrado.
Aprende:
Nem os dedos da mão da gente são iguais, um
É maior, outro é menor, estoutro é médio, essoutro é sadio,
Aqueloutro é doentio;
Resigna-te em não conhecer as pessoas, como tu não conheces o manuscrito
Jogado na lata do lixo, ontem. Descartável, que era, se foi.
Não te disse adeus, não te chorou a ausência, não te feriu a endez da solidão.
Simplesmente, foi jogado intempestivamente na lata do lixo.
São assim as pessoas: elas sofrem dessa viuvez de comunicação, mal abrem a boca
Para te desejar um bom dia ou uma boa tarde, ou uma boa noite.
Conforma-te em te debruçar na janela, com a tua miopia de continentes longínquos,
E divisar o homem provinciano que tu és.
Jeca Tatu na acidez do dia limpo e límpido.
23-2-2010. 23h 13.