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Mostrando postagens de fevereiro, 2010

Lendo a Maçã no Escuro

Edigles Guedes …e livre do incômodo de precisar ser compreendido. Clarice Lispector O Cansaço grosso das horas em brumas de Dublin, Delineiam a face de Martim Por dentro da Maça no Escuro? Em que sonho você desassossegou-se? Ah, foram os ares magnânimos do hotel de Clarice, Minha amiga imaginativa! Martim, não te espantes Com as mãos impuras dos dias caóticos, Os vermes microcósmicos é quem te entende. O teu defeito? É o defeito de todo Jardim que se exaspera com a pedra do dia, Num pulo onça pintada de suspiro contido. O defeito de ser incompreendido, De não se suportar, enjaulado, nas linhas do romance Que é a vida, que surge no enlace de um espermatozóide e um ovário fértil. Martim, por que Clarice inventou-te para o crime? Talvez porque o teu crime sja o mesmo de Clarice. Crime de amar demais, sem armas No peito do ponto final, sem armas na mão da vírgula. Eu vejo tanto amor na alma calígrfa de Clarice! Que o leitor, que há em mim, suplica-me: Ame-me

Quebra de Página,

Edigles Guedes Quebra de linha, quebra do dia, Quebra da andorinha, quebra da cadeira, Onde se senta o sabiá laranjeira. Em que palmeira, ele escondeu-se? Quiçá fora no cajueiro, Ou no marmeleiro, Ou, quem sabe, no juazeiro, Que floriu o verde na sala De visitas. Visitas que me não vieram ver, Eu estava tão gordo de pensamentos briques, Que o sábia laranjeira, Em sua magreza de sentimentos estanques, Sanou o impasse Da minha sala de visitas. O sábio sabiá tirou todas as cadeiras, E por último, a mesa, a poltrona, as flores, Que caíam cordialmente Murchas Num vaso grego. O sábio sabiá tirou a sala de visitas de dentro das visitas, Que me visitavam com suas indagações Ianques Para menores de primavera anos, Indagaç~es que eu respondia arremessando um pepino voador de dúvidas. Perplexo, as indagações enclenques Já não saíam da sala de visitas da mesma forma que entraram, Não sei se foi um verso iâmbico ou um verso alexandrino, Só sei que Sócrates e seu s´

The Book, the Floor

Edigles Guedes Tens um livro que não lês, Tens uma flor que desfolhas; Tens um coração aos pés E para ele não olhas. Fernando Pessoa The book is languishing in your closet. Reading you did, your eyes were tired Are tired of so much to see me in your Eyes, so much like your eyes into mine. The flower, you defoliation. The flower, Who knew it was so beautiful and shy? It is at your feet as leafless as my heart! Heart crook, it yearns for your Love!... 26-2-2010.

If I had no Place

Edigles Guedes Teus olhos tristes, parados, Coisa nenhuma a fitar... Ah meu amor, meu amor, Se eu fora nenhum lugar! Fernando Pessoa Ah, if I had no place To rest my head On your sad eyes! I'd give my kingdom, Made of pencil and paper, In your eyes sad for me. But your eyes, still, They stare anywhere And forget me. 26-2-2010.

O Cupim e o Trampolim

Edigles Guedes O Trampolim dos meus sentimentos Fustigava a selva da minh’alma. Selva de cílios arquitetônicos e agropecuários, De unhas cortadas com baião de dois, De banho de chuveiro nos chuviscos azuis Tão gostoso quanto o patrimônio histórico de Olinda. O Cupim dos meus pensamentos Capinava a relva da minh’alma. Relva de cabelos aeronáuticos e críticos, De barba aparada no café da manhã, De banho de cuia e sabão (pífio) Tão delicioso quanto o banho de bica em Barbalha. 24-2-2010.

Você Usa, eu Uso

Edigles Guedes Você usa peruca de cajuína; Os teus cabelos pintam feios Com essa tinta tão artificial! Eu uso o câncer da caneta Para escrever com meu sangue Diabético o verso de um poema! 24-2-2010. 22h 51.

Ao Redor da Praça

Edigles Guedes A formiga, andeja, Está a açúcares-luz de mim, Cindindo o sol em seis com suas patas microchips. O farmacêutico fragmentou a caixa De fósforos por pensamentos Nunca dantes navegados. Aquele velhinho com sua bengala na mão, Pedinte de terra, calçada e chão, Andou lágrimas de distância. As crianças, peraltas, Com suas pernas de pinóquios Brincavam com as botas de sete léguas. O cata-vento, escarrado No vendedor ambulante, zombava, Zombava zumbidos de zoo mambembe. A formiga, zonza, Procurava o algodão doce Dentro da manhã plástica ao redor da praça. 25-2-2010. 16h 49.

Eu Amo

Edigles Guedes Eu amo o Mar Sem pernas poentes, Sem cabelos carentes, Sem braços batentes. O Mar: tão aleijado de mim, Eu perco-me entre suas vastid~es!… Eu o amo, Como alguém ama o Amor, inimigo da onça. Eu amo o Mar. Eu amo as Mulheres Com ou sem piolhos poluentes, Com ou sem diademas, maiormente, Com ou sem bobes indolentes. As Mulheres: tão sensaboria de mim, Eu perco-me entre suas devassid~es!… Eu as amo, Como alguém ama o Amor, amigo da pantera. Eu amo o berilo emaranhado nas madeixas das Mulheres. Eu amo as coisas simples, Como a letra “M”; Porque, de decibel em decibel, eu componho O meu alfabeto De Amor indispensável. 24-2-2010. 16h 20.

Eu Frequento

Edigles Guedes Ei, eu frequento os jornais Como quem anda à cata Do cr^nico na esquistossomose, Que flerta com a página em branco. Ei, eu frequento os livros Como quem sai à cata Da chuva com um guarda-sol a tiracolo, O qual descamba o piolho do minuto. Ei, eu frequento a mesa Como quem cai à cata Da truta na jardineira da varanda, Que gargalha nas perucas de Clarice. Ei, eu frequento a vida Como quem viaja à cata Do sol e encontra o camarão Dentro da caverna de Platão. 24-2-2010. 18h 39.

Tuas Mãos

Edigles Guedes As tuas Mãos de silício e açúcares Detiveram o Mar. O Mar de eletrodomésticos cariados, Que comem o infinito Do vir a Ser eu mesmo, Que bebem o transfinito Do Ser que se foi em mim! As tuas Mãos de sal e caixa de fósforos Detiveram a Terra. A Terra de vulgares ossos imprescindíveis, Que devoram o finito Do Ser que se refaz a cada manhã; Que digerem o definitivo Do Ser tão lânguido e aquecido, o qual estará em mim! As tuas Mãos de garrafa e sódio Não detiveram o Céu, Que desabou em tua cabeça, Em avalanche de flashbacks antediluvianos De tanta bem-aventurança incontidas no teu crânio. Eu quero me banhar de Céu, Nesta tarde de inverno proscrito, E dividir contigo o pão da felicidade em meus olhos nítidos, Embora desarticulados, vesgos que são! 24-2-2010.

Love lost

Edigles Guedes I'm lost in Love, I'm madly in Love lost. I do not know where star Love hid, I do not know what planet Love fled, I do not know which way the Love followed ... Just know that I know nothing. The washer is broken, the kitchen, So much Love to noise on your pores. The pot, smelly, said to me: “Save your love kept in your heart, Because your love and your heart, they do not belong.” I asked the pot: “And who is the owner of my heart? She is the Lady of Anguish without end.” 25-2-2010.

Heart Broke

Edigles Guedes Entreguei-te o coração, E que tratos tu lhe deste! É talvez por 'star estragado Que ainda não mo devolveste ... Fernando Pessoa Heart broke, it's with me. If I turn right, there, I find it; If I turn left there, I also see it. How can I escape from you? Heart broke, tell me where you Hid my Love? What was the care That you gave me? I feel much Regret at my Heart broke!... 24-2-2010.

Aprende

Edigles Guedes Todo o Mundo é composto de mudança, Tomando sempre novas qualidades. Luís de Camões, Soneto 45. Aprende: A mão que beija a tua face espalmada, hoje, Não é a mesma mão, amanhã, que te belisca uma bofetada; O pé que tu acaricias com tanto desvelo e zelo, hoje, Não é o mesmo pé que te lança, amanhã, um sorriso de pontapé; O corpo que tu amas sem leviandade alguma e o deitas em tua cama de marfim, Não é o mesmo corpo que tu flagras na cama do vizinho, aos gritos de motociclista No Globo da Morte, em gemidos escandidos pelas sílabas do silêncio empurrado. Aprende: Nem os dedos da mão da gente são iguais, um É maior, outro é menor, estoutro é médio, essoutro é sadio, Aqueloutro é doentio; Resigna-te em não conhecer as pessoas, como tu não conheces o manuscrito Jogado na lata do lixo, ontem. Descartável, que era, se foi. Não te disse adeus, não te chorou a ausência, não te feriu a endez da solidão. Simplesmente, foi jogado intempestivamente na lata do lix

Canção de Peixe à Poesia

Edigles Guedes Eu sou o xampu anticaspa para o teu cabelo, Eu sou a bomba de Hiroshima para a tua azia e má digestão, Eu sou o porta-seios para o teu catarro no peito, Eu sou o xarope para a tua gripe, Eu sou o papagaio-currupaco-papaco azuando no teu ouvido, Eu sou o tetéu, que não descansa, não durmo de noite ou de dia, somente a ti vigiar, Vigiar teus passos de passarela da moda, Vigiar teus braços elegantes de seda, Vigiar teus lábios de fel e mel a tatuar beijos de amor e ódio no meu air bag , Como se os meus olhos pudessem gravar em minha retina a tua rotina de mulher, (Íris, íris, íris, arco-íris! Eu estou zarpando pássaro para dentro de ti!) Eu sou o Ó, Eu sou o, Eu sou, Eu: Nada, nove fora zero. Eu sou aquele que te pede perd~o, Poesia, Pois eu não sabia o quanto tu és mulher Em forma de peixe; Peixe que me entranha, que me estranha; Peixe em minhas guelras. Peixe que me polui toxicamente com suas nadadeiras, Peixe que me conspurca com sua barbatana em

Viagem ao Interior de Pernambuco

Edigles Guedes Frete grátis para o interior de Pernambuco. Quem vai subir na Maria Fumaça? Quem vai descer da Maria Fumaça? O que encontro? Encontro o absurdo da anca de zebra na boca de leão — Sinto-me presa fácil das circunstâncias convexas. Sinto-me como se a dor que fora, ainda deixasse em mim o rastilho de Pólvora na sala de estar do peito flamejante. UMA flama de fauna insana arde dentro da tuberculose do meu verso. Manuel Bandeira que o diga! Ele sabia o quanto a Estrela da Vida Inteira é Tão breve, tão índigo, tão índice, t~o flerte. Bactérias consomem a boca do meu estômago; estômago Feito de óleo e flúor, flor de gôndolas, assim é, sem perspectivas De Leonardo da Vinci com seu sorriso de Mona Lisa. Onde está o vestido de Mona Lisa? Será que ela ainda debocha do rosto De Leonardo? Será que Leonardo não debocha de seu próprio rosto Naquele quadro de xadrez russo, de lances espetaculares? Veja Como está a cor do quadro! Que tinta foi que ele usou? Mona Lisa p

Sea

Edigles Guedes The Sea ruffled Streptococcus . It was as poster clown orange. So O. Ridiculous. The mouth of the Sea stretched. I laughed my laughter. The Sea ruflo their drums. Pum, pum, pum! Like a boy and his toy. However, if the toy breaks, the Sea cease its arms of the breakwater. I got tired of creepy Streptococcus . I'll sleep on the breakwater of me. 22-2-2010. 20h 53.

Meu Coração Está Interditado Pelo Amor,

Edigles Guedes Era assim que estava escrito na placa, Que enrugava a rua com sua face ébria, Acalcanhada no paralelepípedo fubeca. Era assim que eu me sentia nas tuas Mãos vertebradas de mulher madura. Um títere, eu era; e não enxergava a lua, Insurgente, a qual rebolava o seu desdém ao sol, Num rébus enigmático de chuva sem o sativo Guarda-catarro; de jardim, magnético, sem girassol. Era assim que estava escrito na placa, Que assalariava o poste de lâmpada elétrica, Tão elétrica que magoava o chão com sua ressaca De mulher ávida de Amor. O Amor que pode Matar os protozoários da Angústia é o mesmo Amor que chora rios de fel, que navega e sacode! 22-2-2010. 20h 12.

Eu Colho.

Edigles Guedes Eu colho palavras como o jardineiro Colhe s´labas de flores na Xícara. Eu colho versos como o alfaiate cospe E costura fibras de amores na lareira. Eu colho a mim, sem arestas, sem Vértices, sem volume, sem ponto, Como um ceifador ceifa a Brisa que Aconchega o inverno sem gesto. Eu colho aquilo que plantei no Magnésio: A sua tez, a qual sem ferro, ainda é minério; As suas pernas, que vão se tornando mist´rio No meu peito esfaqueado pela tua boca!… Eu colho. Eu colho. Eu colho. Eu colho. 22-2-2010. 14h 02.

Taí, no escurinho do cinema,

Edigles Guedes Nós dois brincávamos com a pipoca E o refrigerante, Jornalistas, que éramos, colocávamos a fofoca em dia, Entre closes de sua mãos nas minhas, entre Closes de seus bibelôs kitsch , nós Dois jogávamos Os pés na poltrona vizinha e vazia, Na contra-mão da miopia, mal enxergávamos um ao outro, de tão breu que estava, Gargalhávamos de uma mulher bruaca, com cabelo de Capivara misturado com milk-shake de Bombril, que lástima, dizíamos, sem Ser vistos, O meu coração, estenógrafo, filmava o teu sorriso em Câmara lenta, sem pause , ele gritava, Não para, não para, não para, Você era uma infecção que se alastrava por entre as pernas das cadeiras do cinema, Por entre os braços do silêncio dândi de um filme de ação, Será que assistíamos o Matrix , com Keenu Reeves, ou Foi o Rambo IV, certamente, você não assistiria o Silvester Stallone, Você é muito romântica, Eu sou careta que nem papel de embrulho, Você carrega a maternidade das horas ao meu lado, Eu e

La lumière déclinait à l'horizon improbable,

Edigles Guedes Je ne sais pas de quel côté se trouve au Nord, est, ouest, au sud de la poésie probable. J'ai vu le pathétique d'un Canard, il a couru, en bonne santé, l'eau d'un lac, Lac de solitude, Je me suis perdu dans les moments intimes de la foule, pathétique, Je ne sais pas, je ne sais pas, Où est le Canard? Probablement, le Canard promenades dans le Square des Lions, il sirote un jus d'orange, Il mange un sandwich au fromage, Il divise la serviette en deux, Il tient sa main froide Coca-Cola en canettes, Il mâche un g^teau de fromage, comme un rat ronge un document avec leurs pieds à la plume, Il fait une digestion orange douce ciel, dramatique, Certaines questions de gouttes d'orange clair, (Dans le fossé de la nuit, je me foncer Je suis, monde, le sens aigu.) Il ya des frais du papier journal bâclée, écrit et dessiné, le samedi, Il est un étudiant de première année qui entre dans la salle de la radio AM, Il est le Canard, le Canard I

Sandálias

Debaixo dos meus pés, insípidos, Estão as minhas sandálias Havaianas. Os meus pés, calejados, amolados, Esmagam a carne sórdida e condoída Das sandálias diáfanas e interurbanas. Os meus pés gorjeiam perfumes De areia. Eu piso, de mansinho, Os ladrilhos da vida; senão o não, A vida em redemoinho contra a Vida, tal como ela é. Quem sou? Me escrevo como jornal dobrado De domingo. Abafado está o tempo Cá dentro, sem meteorologia para Previsão. Abafado está o espaço Comprimido entre o pé esquerdo e As sandálias Havaianas, cuja dimensão Desmedida em suas pupilas, eu me perco! 21-2-2010. 11h 36.

Hair spent in my hands

The palpable wind, fuzzy hair, dropped In my hands, left my heart in two pieces Of morning. When you stroll through the Garden of the square, your kisses spoil the Bank suspend on your buttock. And that Buttock senseless! It makes me lose my Mind without greed of Cupid. The palpable Wind their summer resort shock waves. Yes, Shock waves, because my heart is warm. Boiling. And the cold wind do not know my Heart sown! The square of free verse tells me That I lost Camões me. She asks me, “Where Is your lyric lira?” I reply, “It is in the hands Of the woman's hair bubbling”. The square of Free verse makes a grimace at me. “Incorrigible Poet, run, run! Go grab the air bubble and soap, Which you left in bra of hair in the wind.” The Palpable wind. The fuzzy hair spent in my hands. 21-2-2010. 13h 24.

Nail

It scratches me with his anatomy snake made of dead Skin. Dead skin. Who devour the Easter egg dipped in the Door? In the door. A boy discovers the egg, as Columbus Discovered America. Columbus discovered America, or America discovered the egg without Columbus? Just like That old question, “Which came first — the chicken or The egg?” The afternoon put a blue egg out of his clouds. How to start the evening clouds, the egg of the nail? The boy, innocent, who discovered the egg, he managed To pull the egg from the nail, which was sailing in the Afternoon. Oh boy, oh boy, come here! I can pull the nail From inside the egg? No? Is because — it is better to start The egg inside the nail? Oh, the nail is carbon dioxide! 21-2-2010. 15h 46.

Chair

The Chair holds up on the floor stupid, Like holding up the morning sun before The clouds of winter, like holding up the Clouds of winter before the floor stupid. The Chair expands its metal, the captive Captivity who relies on his arms and legs. A sunny morning, sitting in this Chair, It’s stupidly cold, with ice from the Atmosphere captive. Captive, I’m in your Arms of his chair. This morning the sun That holds up in the clouds of winter, I’m Madly in Love captive. Bondage of Love! 21-2-2010. 11h 26.

O Tapete

Da sala com o carimbo do pêlos felpudos Esmaga o chão crudelíssimo de ladrilhos Escamosos, perpassando a sua ausência de Licorne inaugural à sua cor, como se vestindo De organdi. Olho para ele, e percebo a sua Superfície órfã; mas não de um órfão qualquer. Superfície órfã de Orfeu e sua trágica lira, Que plangente chorou sua amada, Eurídice. Ah, meu amigo tapete, não chores as mágoas Perdidas no mar de concreto e aço, no mar Que te feriu as nádegas de pano e algodão. Nós Somos tão sentimentais que o sentimento de Amor fere e escarnece de nossas chagas em aberto. Precisamos aprender com o pássaro da cristaleira, Já timorato, a sermos mais cuidadosos com o crânio De nossos pensamentos. O mais: que vá para o escambau Orfeu, aquele sátiro, e sua lira; bem como Eurídice E sua beleza estonteante! Pois tu és de ferro e aço, Meu amigo! aguentas o tranco, com esse teu invulgar Sorriso; aguentas a casa caindo na manhã de outono. Não desperdiças as tuas lágrimas da mesmíssim

Nose

The Nose is the orifice, Raw, with its abrupt cavity. The Nose is that metaphor, Deviation, exception to the Rule, with its Platonic cavity. Ah, Snot! impurely coming Out of my Nose. If you know Of disgust in you. However, you Do not know the disgust in me. In me, I'm so dust, so impure, So numb, so incomplete, me! “It is better to err, trying to hit, Than ever mistake by not trying To hit,” it told me, the Nose. So I walk forward, through the Platonic cave, the Nose. And I go Out in daylight, rejuvenated. The Nose is the cavity tectonics, with Its steel garage, the sense of smell Of life. Life in the nose of steel! 21-2-2010. 9h 38.

O Fogo, a Sequidão, a Mornidão

I. Entre o fogo e a sequidão, Eu prefiro o fogo à sequidão da alma Na lama de uma folha de árvore sem bosque A rastejar tão lesma de gosma cinzenta e translúcida. Mas, caso você possa se agarrar Com garras de inalar dormências À sequidão do deserto da alma de poeta… Meus Parabéns! amanhã o verso rompe com a aurora, E não seremos mais úteis. Útil é a aurora sem braços, Como a faca é útil para o útero da fruta, Como o fogo é útil para o ventre da matéria incinerada, Como a luz é útil para os olhos de quem enxerga o ângulo morto Das coisas pré-históricas. Quando a morte bate à porta, Ela bate de mansinho, para não assustar a despedida do dia primaveril, Sem arregaçar as mangas de suas garras de tão móbil E mazorra que ela vem chegando sem som, sem sal, sem si: Segure firme, com e dentes unhas A frágil possibilidade de viver um dia sequer entre As tulipas, que florejam no jardim desencantado de pedras Brancas como seixos brancos e frugais. Aprende com o gato Como a

A Casa

A casa por longe É o diminutivo Da palavra Ponto, que cego Vê a planta séssil. A casa por cima É a telha vã E a matéria Neoliberal Da natureza morta. A casa por perto É esse concreto E o cimento Ketchup Da matéria torta. A casa por dentro É a mesa lã E a natureza Das cadeiras sem Pernas ou presuntos. 19-2-2010. 22h 51.

A Caneta

Quem já entrou na pele De uma caneta ésfe(r)rográfica Para saber o que se Passa em sua mente De brilhantina e suor? Talvez, nesse instante, Quando a brisa bate E balança o papel, Transpiração de tinta, A caneta se esvai Em sua serventia, Tal como um Jumento com cangalha Do Sertão pernambucano, Tal como a Moça de cabaça No ombro ou com rodilha De pano na cabeça, tal Como a noite: que Ins^nia de dia! Quem já entrou na pele De uma caneta ésfe(r)rográfica Para saber o quanto Se gasta de caloria No físico exercício de Se escrever uma linha Com filologia Ou parágrafo Sem semáforo, Ou página alada, Ou folhas de um livro Sem eira, cujas beiras Ficaram de orelhas em pé? As pernas da caneta, me Corrijo, a perna de Saci-cererê da caneta N~o quer saber do gás De cozinha (que findou), Deixando a cozinheira De mãos abanando O fogão sem carvão, Mas elétrico no chamejar Das labaredas de chuva Avessas de fogo; N~o quer saber da centopeia, Caracol de medo, p

Cinderela sem Baile

Boa noite, Cinderela! Aonde vais sem o teu sapatinho de cristal? Em que pé ou em que príncipe, você o perdeu? Era tão humilde quanto a Gata Borralheira a descer a vassoura pelo chão sujo de madrasta, pela Cozinha imunda de madrasta má, que suja os pratos da pia e não zela Pela enteada. A vida, você sabe, muito bem disso: não é um conto de fada. A vida tem de suas agruras na porta, pontapés na janela, socos na boca Do estômago, sem espaço para comida de tão vazio que é. Olha nos meus Olhos, você, Cinderela, e não é que de fato você é uma linda mulher! com Seus cabelos encaracolados que fingem ser lisos, com suas mãos delgadas Tão delgadas que se tornam transparentes de carvão. O fogo alto do caldeirão da Velha madrasta má não a deixa dormir inteira a noite. De quando em quando, Você se levanta e vai vigiar o fogo. Você acha o fogo tão lindo, com suas chamas Queimando o incenso das horas adormecidas! Mas, você não é a Bela Adormecida, não! Você não pode dormir, tem que ficar

Para Leminski

  A noite miava Estrelas redondas  Que engordam   Leminski Era assim que  Se escreve O nome dele?  Não sei; sei? Quem sabe?   A noite luava Sapos soprando    De engodos 20-2-2010. 1h 37.

The Golden Fleece slept on my Shoulder

Where is the Golden Fleece? In the star, in which country It hid from me? The Golden Fleece sings That star, in which country? It hid from me? The Golden Fleece sings Disappeared from his wounds. So I do not see it. Where is the Golden Fleece, Whose grief for missing, As it poured on my shoulder? The Golden Fleece slept On my shoulder and then Off disappeared. It took wing! 20-2-2010. 20h 49.

Night

Night smiled his bat wings. His Hands consumed in ties with kisses. The breath of the Night is within Reach of my hand. His eyes funeral In shampoo black hairs. It is clear, Dressed in his pneumatic moon. His eyes, hungry, they hatch the Unthinkable is what it is. Night Amended the grammar. His skin Is saturated with the gray rain. I go to the bathroom, and I Just write this poem about A toilet paper and clean. 20-2-2010. 22h 41.

O Menino Tapado

Com suas mãozinhas de cera, Domésticas e portáteis, Brinca com um videogame — Que não quer te ver. Não sabe ele da noite chegando Sem bicho-papão, Sem lobisomens num filme de terror Hollywoodiano. Não sabe do dia na saleira se escondendo. Não sabe da hora Em que sua mãe Vem e chega Com a motocicleta de bagageiro cheio De fragrâncias da tarde indisponível. Lá fora, tudo é solidão Em meio à devassidão dos anseios Não correspondidos; em meio Às cartas frustradas, Que não se abriram, Cujos envelopes mofados dormem Na escrivaninha de seu pai; em meio À água indômita da torneira escandalosa, Que feriu a mesa, encabulada, onde repousa A última conta de energia elétrica, Para pagar no final do mês. O pai quase que engole o doido, Com a zoada do menino. Levanta-se da escrivaninha e Pede silêncio de dedo indicador. O menino, tapado que é, Volta ao velho mundo de videogame , Regado a silêncio e solidão. 18-2-2010. 17h 59.

Fazendo Ciúmes à Emily Dickinson

The complete poems of Emily Dickinson Foi fotografado num close-up de braços dados com Serial e antes. Enquanto eu fico me martirizando pelos cantos da casa, Com minha mea-culpa por ti amar demais, Emily!… Eu amei os teus loucos beijos de poemas Com sabor de navalha na carne!… O poeta Serial é áspero e antilírico, Ele não te entende; mas nós nos entendemos, Pois coagulamos a lírica com o travessão da faca! Não me queres, eu te quero; Eu te quero, não me queres. Eu não quero, tu me queres? Tu não queres? Eu não quero. Anne Sexton, a completa, está voando nas nuvens Da Empresa Brasileira de Correios e Telegráfos, Quando ela chegar, Emily, tu já sabes o que vai acontecer… A Anne vai menstruar poemas nos meus dedos. Há um rio de palavras que cachoeiram debaixo dos meus dedos. A Anne, esta sim, senhora, é que é mulher-poema, certamente ela Vai se masturbar com seu dedo de poesia nas minhas páginas em pálido! Louca ela, louco eu, loucos seremos a Mastigar um bocadinho de

Eros

As pulquérrimas flores castas gastam Os odoríferos campos castanhos… Os nossos corpos, corpus comuns, Nus se entrelaçam, nós nos entrelaçamos Na maviosa canção de amor parturiente!… 20-2-1999.

O mar

“O mar soprava sinos” João Cabral de Melo Neto O mar soturno e silêncio. Só, si, só, si, só, si. O mar socava a sílaba Do vento para dentro Da boca de sapo da noite. O mar soluço e cimento. Só, si: só, si, só, si. O mar soassava a si Nas pedras da praia de Boa Viagem, sem açoite. O mar soçaite e sina. Só, si — só, si, só, si. O mar sobalçava-se, Avistando o horizonte Corcovado da luz açafrão. O mar sóbrio e cianeto. Só, si; só, si, só, si. O mar sobraçou o sial De um grande rochedo, Que lhe amarrotou as pernas. O mar sólido e símil. Só, si, só, si, só, si. O mar soava sinagoga, Quebradas das ondas que Albatrozes gorjeavam azuis. 18-2-2010. 16h 38.

Meu Mundo, o Retrato na Parede

Não se fie na aparência do retrato na parede, Pois há nele um pouco do fel do meu mundo. As imagens fingem, em constante fingimento, De serem o que deveras não são! O retrato — que figura em imagem — não pode ser As palavras absconsas por dentro do meu pensamento; Pois, só uma palavra vale por mil imagens? O meu mundo são estas palavras que colho e colijo; As palavras que colorem o zoológico e aleijam o jardim Botânico, que há por caixa do pensamento. Por isso, embrulho o meu mundo e jogo na lata de lixo. O mundo, o mundo é o de cá fora: onde flutua o retrato na parede… 20-2-1999.

A Barata de Kafka que Virou Vaga-Lume

A lâmpada de néon Fotofosforilou a pestana Das persianas sintagmáticas! Me entreguei de bandeja Ao microfone do sofá, Onde dormitava o Pynchon Ao lado de Tyrone Slothrop. Sim, botei a boca no Trombone: — Desse jeito Não dá pé! O alto-falante Alardeou pro Kafka: — Olha, que o sujeito Está uma batata! Daqui A pouco, ele azucrina! A Clarice me deu uma Bronca: — Vai belichar Em outro lugar, esse Aqui é meu, ó!… Fiquei Acabrunhado, mas mesmo Assim, pus os pés no Peito do Gregor Samsa. — Ou você sai daqui, Ou essa Barata sai de Junto de mim. Ele se Recolheu à sua ninharia, E falou: — Claro, eu vou Advertir a fotogênica Barata… Pronto. Pum! A Barata do Kafka Virou Vaga-Lume. 17-2-2010. 21h 39.

Breve Descrição da luz Entrando Pela Janela do meu Quarto

Delgadíssimas hachuras de luz                                  Racham As fímbrias da cama de quitina que                                       Inundam Os teus braços da era pré-rádio, O teu bumbum erógeno, As tuas pernas pleópodes Me dando sopa no café da manhã e Que me faz claviculário de mim! 17-2-2010. 15h 27.

Tão Camaleão de mim

Num piscar de cortinas, Nessa hora de suor em quilos de calorias, Eu me sinto tão Camaleão de mim!… Que gostaria de me camuflar Em flor, em pedra, em fogo, em ar. Sim, eu gostaria de me camuflar No verbo trânsito de Amar, Sim, ser verdadeiramente amor, E Amar tanto e tão veemente, Que o Medo, que há em mim, Fugisse de si tão loucamente!… O Medo — de tez giz pálido — Desapareceria com o meu sentimento De Camaleão tão mutante de si! 17-2-2010. 13h 57.

Escrivaninha

Alisei a tua pele macia, Que, de tão macia, eclodia As verrugas de tua tirania Em minha epiderme adentro. Amor é coisa de pele, Que se pega com as mãos e Se sente com o taco dos dedos, Em sinuca sem bico, Sem Tejo, sem medo. Alisei o teu dorso de fera Que, de tão feroz, faz cera De abelha na colmeia de plantão. Cada qual das abelhas comia O néctar das flores, assim como Eu me abria a sentar na varanda De tuas pernas e dizia cá comigo: — Hoje, ela está tão devagar, com Seu dorso a passear em lanternas! Alisei, aliso, alisarei o teu Beijo de escrivaninha na pele Do papel, cujo ofício é servir À caneta de amparo, de laço Entre o físico e o metafísico, Entre o escrito e o pensamento. — Minha cara escrivaninha, que nó Tu me deste na boca do estômago!… 17-2-2010. 6h 1.

Tecido

O teu tecido epitelial Me tece em mãos Encardidas de Cloto? O arco-íris da gravidade De teu sorriso epitelial Me tece a extensão E o reto caminho Em débeis luvas Nas mãos engelhadas De Láquesis, sórdida? (O arco do triunfo De teus lábios me Revelam o quanto Há de belo em teu Sorriso epitelial!…) Onde se escondeu A caduca Átropos Para cortar com Seu alicate feroz De unha o cordão Umbilical do teu Tecido epitelial Dentro de mim? 17-2-2010. 6h 17.

Uma Fábula com Faca, Manteiga, Pedra e Formigas

A Faca Negra de Formigas Sadias Pegou carona com a Manteiga da Manhã. No meio do caminho havia uma Pedra, A qual debochou da cara deslavada das duas, Dizendo coisas impublicáveis, palavrões Sem tamanho de tão desmedidos que eram! A Faca Negra apelou, então, pras Formigas Sadias, as quais vieram ao seu socorro, Narrando a fábula da Formiga e a Cigarra. A Pedra, artrópode duro que era, não abriu Da parada. Ficou lá, quieta, imóvel, curtindo A sua depressão! A Manteiga da Manhã Escorregou na Pedra, e a Faca deu um Empurrãozinho, servindo de alavanca pras Formigas Sadias. Moral da história: A Pedra Saiu do lugar, ainda que bastante recalcitrante Com o cobrador de impostos, que era a Faca Negra, E das Formigas Sadias. E é só. Como diz o ditado: Wes das Herz voll ist, des geht der Mund über.

Epifania do Carcará

Carcará, ô Carcará, que vida sem furo é esta nossa! Mano oh mano, olha, Carcará! Você repara o meu cenho carcomido?… Isso foi de tantas diminutas esmolas Pedir: da cabaça, uma gota de gole d’água; Da lavoura, uma espiga mirrada de milho. Foi assim que trespassei de lesma viajante a pedinte errante. Esmoléu que sou; angariando o de comer pelas rodagens da terra ao céu. — Ave, Carcará! Nós somos, Antes de tudo, Uns fortes! Nós, mano velho, Nascemos Para superar As agruras Renhidas da Morte colhida Nos pés de Mandacarus E marmeleiros!… Carcará, ô Carcará, que vida sem futuro é esta nossa! Mano oh mano, olha, Carcará! Haja vista os vultosos empréstimos de calor Em nosso reles sertão nó(r)-destino, Se você não cavar sua cova humílime, Como comerá o carrapato do boi? Como comerá o cadáver fétido do boi? Urubu matreiro que é, comendo na mão e o queijo com a faca, No seu ofício de desentranhar os vermes de cada um de nós!… 6-2-1999. 17-2-2010.

Diálogo com o Sol no Jardim Zoológico

No prelóquio, Eu desabotoei o Sol De sua camisa de força — O Céu pintado de Paul Klee. Por sua vez, O Sol se debruçou na janela. — Ei, você aí, homenzinho! O que faz com essa folha e caneta na mão? — Vou surfar nas nuvens de algodão doce, Vou de skate nos ventos norte e nordeste, Vou fazer tempestade num copo de cólera, Vou elucidar o mistério da curva elíptica de Capitu. — Pois bem, eu vou ligar o 0800 E registrar uma reclamação sua! — Reclamação, por quê? — Por perturbação de sossego alheio. O Sol se emburrou comigo, mas Visto que não adiantava sua cara de muxoxo, Ele abriu um largo sorriso de cúmplice Da Miss Marple e me disse sem reservas: — Vamos fazer uma fezinha? — Que tal no Camaleão. — Mas o Camaleão não entrou no bicho! — Pois é nele que voto, seu Zé Mané! 16-2-2010. 15h 38.

Por que Chegaste a mim?

Eu tenho 34 anos E alguns raros cabelos brancos, Que me desapontam! Certa feita, vieram tirar onda E me caluniaram, afirmando que estou velho, Prematuramente velho. Eu disse: — Ah, isso aí não É velhice; e, sim, Sabedoria! Eles retrucaram: — Se a gente Pudesse ser jovem com a experiência De um velho!… A gente não se arrependeria De muitas coisas deixadas pra trás. Oh! cabelos rasos e brancos... Oh, my dear, white hair! Por que chegaste a mim Como quem não quer nada? Bastava dar um alô aí de cima, E estava tudo O.K. entre nós!… 15-2-2010. 5h 21.

O Geométrico Arquimedes

Sôbola tarde. Austral, tomei banho de primavera. Aos meus pés Formigas-elétricas incendeiam A minha pele transparente. Me estalo de exaustão? O cálculo de Arquimedes Logra o volume Esférico das horas. 15-2-2010.

Que Sono bom...

Nós dois coladinhos, Que nem papel de parede. Na cama de casal — Segredos e confidências —, Recriamos a ardente invenção Tão conhecida pelos nossos Ancestrais: engendramos o Amor! 15-10-1997. 16-2-2010.

Querida

Para Ana Cristina Cesar I. My dear! Você é a minha ilha do perdido tesouro, Um lírio de campo de mulher! Ana, nós somos um encontro vocálico — Duas vogais unidas, Sem hiato de entremeio? Olhai, Ana, os hipocampos no aquário: Eles não tecem roupas Nem plantam o alimento, Porém, deslizam suaves aves na água. Como o nosso amor bucólico Nessas vastas plagas, São os hipocampos no aquário! II. Oh là là! Você é a minha ilha de Balnibarbi! Uma Marília de mulher Sem Dirceu, o chato de galochas! Ana, nós somos um hífen melodramático — Uma ponte de união entre Dois vocábulos sem o espaço no meio? Nos arrabaldes do alviverde campo, Eu passeio pastor campestre, Pastoreando as ovelhas de nosso rebanho. Aí, encontro-te, linda donzela, Deitada entre flores melífluas, Convidando-me a amores indizíveis. III. Oh, Díos mio! Você é a minha ilha de Glubbdubdrib! Uma Ana Amélia de mulher Sem Gonçalves Dias dando um de Sherlock Holmes! Ana, nós somos um sinal de adiç

Ai, quem me Dera!

Ai, quem me dera! despetalar As flores dos teus sorrisos, Dizendo-te vocábulos Ardentes de favos de mel… Ai, que me dera! desfolhar Os ramos dos teus beijos, Declarando-te o Amor, Em línguas da boca do céu… 24-10-1997.

Ando por Uma rua

Ando por uma rua Sem luz, sem lua. Ando por uma rua estreita, Como o estreito canal de Suez. Ando por uma rua muito escorregadia, Molhada pela chuva torrencial do dia… Ando por uma rua escura, Pele da escuridão tardia. Ando por uma rua sem calçadas, Sem paralelepípedos, sem ladrilhos. Ando por uma rua infinda, A rua de todos nós — A rua Indefinida! 20-11-1997.

Entrego-te Rosas

Entrego-te Rosas Várias, como quem Oferta o Coração — Em fragilidade gratuita… Entrego-te Rosas Várias, como quem Sacrifica o corpo — Escada que unimos Amor… 2-10-1997.

Meu bem, me dá

Uma colher de chá! Vamos nos deitar, E enganar um ao outro, Com juras de amor Salgado pelo chá Das cinco na Inglaterra Que há em ti comigo! Meu bem, me dá Uma colher de mar! Vamos nos deitar E enganar um ao outro, Com esconjuros De amor doce amor; E depois nos lamentamos Da separação indesejável? Meu bem, me dá Uma colher de ti! Amanhã nos calaremos Em algum silêncio Morno. De madrugada, Tudo é som sepulcral Propício a este lamaçal De poesia enxuta e alada! 15-2-2010.

Era bom que...

Era bom que este Abraço, de momento, Pouco desdenhoso, Durasse por todo um Vil contentamento!… Era bom que este Longo ósculo Sul-americano, De apaixonado Com cara de Cachorro atropelado, Durasse o quanto foi De assaz agrado!… Era bom que estes Ignóbeis pensamentos Fossem pirandellos De ternuras em gramáticas, Ainda que sem carinhos E sentimentos liquefeitos!… Era bom que nunca Houvesse em nossas Vidas, abjetos tormentos. E nós dois bem Juntinhos, para Sempre do sempre, Fôssemos este Breve beijamento! Era bom que eu Me obnublasse Como as nuvens De moscas que Atacam a ferida Pútrida em aberto Campo de sangue E terror de batalha Na guerra entre a Vida e a morte De quem vive Na cova rasa Do prato de comida Tão sóbrio e vazio, Como se o sinal de Infinito fosse a Junção estúpida De dois “O” Com um pontinho De feijão no meio. A barriga Grunhe nessa Manhã sem Inverno ou Cadeira pra Nos sentarmos E federmos Sozinhos o mundo Tão alheio d

O Espelho

O Espelho reflete — reflete em si mesmo, a Régua da imagem latente de qualquer animal ou Vegetal, ou objeto, ou homem. O Espelho tem Dessas transparências de águas de rio. Que águas Límpidas, de cristal de sal, seu salário! O Espelho, Matéria abjeta, oclusa, obesa, hermética, reluz Luzes em ares perfeitos, superfície circunspecta. O Espelho sabe (a tal medida sábia) o Sabiá de Dentro das coisas; refletindo idôneo, como o Olho à alma, o derradeiro âmago privado das Coisas sem medo e sem pejo do vulgo Tempo, O devorador das angústias de ansiedades humanas! 8-8-1997. 14-2-2010.

De Preâmbulo Avante

Por entre caspas, cravos e espinhos Na cara, Eu dou o meu rosto à tapa! Por entre baratas, traças e livros Na escrivaninha, Eu dou o meu sangue em versos! Por entre o dia, a tarde e a noite Na terra, Eu vou seguindo de preâmbulo avante! 14-2-2010.

Não me Leiam,

Pois os meus versos têm o veneno De Augusto dos Anjos De mistura com Álvares de Azevedo. Só me falta a peçonha, Para inoculá-lo Nessas páginas que me enleio! 14-2-2010.

Esqueci a Chave em Casa

Edigles Guedes Imediatamente, eu liguei Pra ti; porém, o teu celular Só dava: fora de área ou Temporariamente desligado. Chamei um chaveiro E ele me destrancou, Por apenas uns dez reais E vinte e cinco centavos. Chaveiro bom, chaveiro Amigo! Que pena que ele Se esqueceu de destrancar A porta do meu pensamento!… Pensamento gimnospérmico Que não larga o chulé das tuas Mãos escorregando em mim — Em meus líquidos sentimentos!… Salgueiro, 13-2-2010. 4h 15.

Luto, eu Confesso que Luto

Edigles Guedes Com essas teclas inúteis De um computador barato; Porém, por mais que eu Lute, já não consigo extrair Da pedra que arde em mim Uma Poesia angiospérmica! A minha Poesia não tem Nada que ver com o fruto. Ela é dócil e magricela Porque em suas linhas De pteridófita brotam Uns brotos de briófita!… Aí, é quando o sapato Aperta, e coloco a boca No trombone da caneta Esferográfica e de tinta Azul de cor. A Poesia, então, se Ferra e brota como um esgoto Cavoucando a terra azulejada da Casa sem alicerces. Que gosto!… 13-2-2010.

Eu Gostaria de Desvendar

Edigles Guedes A botânica de tuas mãos. Em que digitais de teus Dedos, miúdos e sérios, Eu me perdi? Ontem, eu sabia por onde Começar os meus versos; Porém, depois que rompi Com os genes da mendicância Pelo teu amor, Sacudi a cabeça em sinal De negação (ou afirmação) De tua pele se enroscando Na minha, como se enrosca A cortiça num Abridor de garrafas. Só Não sei onde fica as tuas Mãos, ainda. Em que Longitude e latitude Escondeste As tuas mãos galvânicas? 13-2-2010. 10h 19.

Tampinhas

Edigles Guedes Eu tento engarrafar as horas Dentro de Tampinhas de coca-cola. Mas é tão inútil quanto a arte De chutar Tampinhas de coca-cola. 13-2-2010. 9h 52.

Madrugada de Cafeína

Edigles Guedes 5 h 25. Um pássaro me despertou. A teus pés descambou por Cima do meu peito Estróbilo. Adormeci no sofá da Sala de não estar, Pregado nas pálpebras De sono. O café que tomei, a pouco, Se esfarelou em minhas pernas Peludas à procura de tuas Pernas de mulher depilada. Em vão, forcei as portas Do jardim de teus braços. Em vão, Me desembaralhei dos Teus abraços. Seja noite, Seja dia, a cafeína dos Teus lábios Me deixa são de sina! 13-2-2010.

Este Poema Entomofílico

Edigles Guedes Me faz sentir O quanto de hemofílico Existe nesta grafia Que me faz rir. É uma grafia de garatuja, De inseto formiga Carregando outra formiga Que de grande padeceu Suas dores. Por isso, enferruja. Eu acho lindo As letras seguindo Na tela em branco E o cursor piscando Seu abajur De osso, de pó e de Minério, sem efeito Colateral, prescrito Na bula pelo Ministério Da Saúde Poética. Este Poema anemofílico, Embalado pelos braços Do vento em movimento Centrífugo, em que A força centrípeta Deixa escapulir o pólen Dos versos de gimnospermas. Versos loucos, loucos Versos, que quase Chegam a desistir de mim sem Aviso prévio de despejo! 13-2-2010. 11h 13.

O que há de Concreto

Edigles Guedes De grão Em grão, A galinha Enche O papo. De régua Em régua, O arquiteto Projeta A casa. De ladrilho Em ladrilho, O pedreiro Reveste O assoalho. De tijolo Em tijolo, O engenheiro Ergue A casa. De pedra Em pedra, O homem Soergue A lápide. 16-9-1997. 13-2-2010. 11h 31.

Mensagem Ecológica

Edigles Guedes Meu filho, a tucuritinga De mancha amarela É bicho mau, Pior do que o au-au! Meu filho, a jacaritinga De papo verde É bicho de duas caras; Pelas costas, fala e vara! Meu filho, a sucuritinga De pele branca É o bicho homem: Com língua dobre, a todos come! 16-9-1997. 13-2-2010.

Muriçocas Carnívoras

Edigles Guedes Devoram a minha pele de decepções. Captropil. Hidroclorotiazida. Glibenclamida. Me apavoram. Respiro sofrivelmente o ar Infecto de trio elétrico. Poluição sudorípara. Às vezes, me faço de rogado. Às vezes, tomo chá de cadeira, Enquanto a Poesia não chega. Então, Fico lendo uma página ou outra Da Cecília Meireles. Barqueiro, Que feodérmico instante!… 14-2-2010.

Ofício de Escrever

Edigles Guedes Escrever: Excremento do ver, Do ouvir e do fazer? Escrever É qual caminhar: Sem princípio nem fim, Da meada o fio. Escrever A ferro e fogo: Lúdico jogo. 17-9-1997.

O Rato e a Roupa do rei de Roma

Edigles Guedes — O Rato roeu a roupa do rei de Roma. — Quem roeu a roupa do rei de Roma? O Rato ou a Ratoeira, Que não entrou nos autos Do processo romano. 14-8-1997.

O Gato e a Telha

Edigles Guedes O Gato pisa macio, Mas Telha é vã. O Gato-lã: A Telha pronuncia. 27-9-1997.

O Corpo e a Palavra

Edigles Guedes O Passarinho, que pousou Na palma da minha mão, Tornou-se este corpo escrito, Mumificado fóssil pré-histórico? Este corpo, pois, é a estrutura expansiva Da Palavra, além-doce e pós-filosófica, Que pousou na ponta incisiva Da minha estenográfica caneta. 10-11-1997. 14-2-2010.

O Amor é...

Edigles Guedes A Camões A. O Amor é janela Sem grades, Que prende. B. O Amor é fogo Sem chamas, Que queima. C. O Amor é fruto Sem frutescência, Que amadurece. 24-8-1997.

A William Faulkner

Edigles Guedes “Mas é impossível continuar vivo para sempre,” E te comovias, William, Com a história de Lion , o cão azul, E Old Ben , o grande urso, Imaculados e incorruptíveis, Como nos sonhos!… Porém, descobriste, Faulkner, Que o cão azul, de fato, não existe e Que os ursos estão em extinção. Somos, na realidade, Maculados e intransponíveis. “E a vida acaba antes de exaurirmos as possibilidades de viver.” 22-11-1997.

Poeta que não se Cumpriu

Edigles Guedes Eu sou um Poeta que não se cumpriu. Não sei ser igual ao João Cabral de Melo Neto Com sua Poesia áspera e cerebral, nem sei Ser Poeta Concreto ou Neoconcreto, nem Sei ser Poeta modernista, tipo, Carlos Drummond de Andrade, com sua arte poética Do cotidiano de cada um de nós. Eu sou Apenas um Poeta que não se cumpriu com A chave do tamanho de Emília, do Monteiro Lobato. Por isso, os meus versos amargos Sem rimas, sem métricas, sem estrofes, sem O sol das manhãs de fevereiro, sem A luz dos pirilampos elétricos da lâmpada De Aladim, escondido por algum califa Nas mil e uma noites de amor com Sherazade, Lá na Pasárgada de Manuel Bandeira!… 11-2-2010.

Até as Nuvens Crescem

Edigles Guedes As folhas caem, (O que somos, Não seremos, Mas continuaremos Os mesmos…) Até as árvores crescem E caem! 24-8-1997.

Atropelamento

Edigles Guedes Alberto Vinha vindo, Calçada Estrada. Alberto Atravessa A avenida. O carro Avança O sinal De trânsito. O carro Papou Alberto. 10-8-1997.

A Aranha e a Jarra

Edigles Guedes A Jarra arranha a Aranha; A Aranha arranha a Jarra. Como pode uma Aranha — Bicho que tece teia Como criança em sua façanha — Ser arranhada Por uma Jarra, Feita de argila, A ferro e feia? A Aranha arranha a Jarra; A Jarra arranha a Aranha. Como pode uma Jarra — De minério emudecido da terra — Ser arranhada por uma Aranha, Criatura bastante surda e mesquinha? 24-8-1997. 12-2-2010.

Carta a Roberto

Edigles Guedes Meu caro Roberto, A bala mata o homem. A bala, dentro da arma, Mata o homem. O homem, por trás da arma, Mata outro homem — Semelhante imagem. Ah, que desacerto! 19-9-1997.

O Amor e o Copo de Cristal

Edigles Guedes O Amor se quebrou como um copo de cristal Barato, desses de um real e noventa e nove Centavos, que a gente ao encher com água Gelada, a geladeira escorrega aos borbotões De água mineral, em hora de severa sede. Aí, Tudo fica que nem uma foto 3X4, jogada lá no Fundo da carteira de couro. Eu não sei, eu não sei, Sinceramente, que osso foi esse que me roeu as Pernas. A vista está nublada, as pernas estão exaustas, Os cabelos brancos, escondidos entre colesterol maligno E o suflê de batata da mamãe, dizem que chegou a Hora de descansar só um bocadinho. A cama me espera Com seus braços abertos de amizade noturna. Mas eu Persisto em escrever esta Poesia que, de tanto me Machucar, se tornou um sinônimo e fardo de língua Cafona? Não sei. Pois tudo que escrevo não passa de Um bocejo cervical sem eira nem beira, e chaleira Que esquenta o café sovina. Um café magro, que de Tão sovina, virou café bombom marrom. 8-2-2010.

Sobre Deus

Edigles Guedes Deus: Bem presente, Muito maior, Inesquecível E gratuito, Que recebi Em minha vida Tão singela. 9-8-1997. 8-2-2010.

Etiqueta do meu Pensamento

Edigles Guedes Destaquei uma etiqueta do meu pensamento. Sabe o que estava Escrito? Contém poemas proibidos para menores de 14 anos. O que Fazer, quando o tempo está nublado a parcialmente nublado, com Chuvas isoladas no Litoral, na Zona da Mata e no Oeste de mim? Por que os seus olhos se fundem ou se confundem com os meus 14 anos de idade, com os meus primeiros versos de kamikaze, em Que eu me atirava do precipício do céu em direção à palavra Simplória das estrofes galopantes, meu bem? Me lembro que as Palavras fugidias me censuravam pela prisão delas numa folha em Branco de papel almaço. Quantas vezes eu me sinto como um Programa não recomendado para menores de 14 anos!… A tábua Da maré sobe e desce, conforme o movimento da lua dos meus Dedos nos teclados macios, sabor de caramelo. A maré mais alta do Sábado chegará a 1,7 m de altura da montanha de sorvete cremoso. A Voltagem do cromossomo do léxico estupra a linha incestuosa com Outra linha; avante, avante, linhas n

A Vida, a via, a Travessia

Edigles Guedes Assim seja, Assim veja: A vida é uma tortuosa via que Fausto seguiu por Beatriz Ou outra atriz qualquer? Cheia de altos E de relaxos; De salientes silêncios E de reentrâncias que não se calam; Incompreensível Peça de um conto de Kafka E indescritível teatro de Pirandello. Assim seja, Assim veja, A vida é nossa travessia de grande sertão: veredas; De Diadorim sem Riobaldo? 18-9-1997. 9-2-2010.

Os Dentes

Edigles Guedes São os Dentes A fera Cancerígena, Aidética, Rangedeira, Trituradora; Mastigada, Sôfrega e Sofredora? São os Dentes As unhas dos pés De um grito, gato Japonês, Nada cortês. São os Dentes: Esta súcia, Esta mágoa, Esta fúria, Esta luta, Esta paga, Esta cura, Esta essa. São os Dentes Humanas expressões Diletantes. São os Dentes A fera Cancerígena, Aidética, Rangedeira, Trituradora; Mastigada, Sôfrega e Sofredora? São os Dentes A garra De um tigre Tailandês, Ferino montês. São os Dentes: Este instrumento, Este momento, Este sentimento, Este tormento, Este pensamento, Este discernimento, Este contentamento, Este esse. São os Dentes Humanas expressões Cortantes. 11-9-1997. 9-2-2010.

A Vida é:

Edigles Guedes A Vida é: Beethoven E sua mouca música? A Vida é: Shakespeare E sua poesia teatral? A Vida é: James Joyce E seu Finnegan’s Wake sem Ulysses? 8-2-2010.

Lanche

Edigles Guedes O mel Lanche: Wafer sabor chocolate De sexual assédio Com recheio andrógino De tigre de bengala Sabor baunilha encaracolada? Líquido peso: 130 g De pura adrenalina? 8-2-2010.

Indagação de Minhoca

Edigles Guedes A Minhoca de sapatos hermafrodita Perguntou à Lua de sandálias inauditas: — Onde fica essa Economia pé de chinelo Que interdita a Poesia ao meio-dia de amarelo? 9-2-2010.

O Rei em Coma

Edigles Guedes O Rato catarroeu A louca roupa Do Rei em coma. Quando ele sairá da U. T. I.? Para eu lhe dizer umas Boas e poucas, assim: — A Política do Brasil Está igualzinha A uma mula Tupiniquim e sadia. 9-2-2010.

Singelar

Edigles Guedes Ela me singelou o Coração Com aquela cor No pé do estômago. E o Pássaro que Havia em mim Rasgou o véu Do compasso Equilátero — Do azul sem céu! 9-2-2010.

Saudoso Laço Materno

Edigles Guedes Minha bisavó materna, Que sim, era meiga… Decerto, mulher Aquela portuguesa, De olhos azuis, De pele burguesa, De cabelos loiros, De voz manteiga. Por isso, esta vontade Nua de naufragar a nau: Navegar oceanos insetos E mares incógnitos. Me tornando argonauta De líquidas estrelas e Gasosos estreitos; e Com Sabedoria, da pedra Tirar sal e água do balde Oco de sua vergonha escarlate. Por isso, é toda minha Esta Saudade em peito Português, como uma Espécie extinta de velhice. Porém, de uma velhice Mansa de rastejo sem pejo, De uma mansice de cobra Que cansa sua beleza de Serpear o chão sem rabo: E que se acaba nos seixos! 18-9-1997. 9-2-2010.

O Rio de Passagem

Edigles Guedes O Rio — de tudo é diferente e diverso do Espelho transparente, Obstante, fotocópia retórica das águas; sendo este, imobilizado de si e contigo, Inerte, inerme, no tempo e espaço, ressoa som sibilante, dissonante; Aquele outro, dinâmico, escorrendo, trismegisto, em direção ao Mar Trissectrix, que se desdobra em outros deltas de rio maior — cissóide! O Rio, esse ser de contornos, volteios, margens e barrancos envernizados, Não se pode ver em fúria cega, em raiva cheia, pois é pior do que furacão: ruína ar, Destroços! Leva a tudo e a todos, em águias águas sem cabelos: o Rio divide e distribui seu [selo. Por isso, o Rio é rio: o Rio — terra de ninguém, tal qual coração de homem: Eletrodoméstico inquebrantável — obturação mastigável: tanto terror quanto nuvem… 13-8-1997. 8-2-2010.

Vaga Sombra

Edigles Guedes Vaga Sombra, companheira do meu lado Esquerdo, Se apague com a luz morta da noite esdrúxula!… Vaga Sombra, que de tão desconhecida e desnorteada Se torna inimiga escusa e amiga erudita e assanhada!… Vaga Sombra, que num imperceptível desvão, martela Uma cabeça de prego — soletra o martelo na madeira solerte. Vaga Sombra, que desanda na casa mobiliada, Proparoxítona propriamente cativa de si e seu! 10-11-1997. 6-2-2010.

Toleima

Edigles Guedes Toleima: O Lápis que Não pensa. Eh, Lápis burro, Que me traz tanta Dor de cabeça! 10-8-1997.

Teus Olhos Verdes

Edigles Guedes Teus Olhos verdes. — Verde tão verde Quanto o Alvo de tua Pele de solicitude, Dizendo: — Eu te quero sua! Teus Olhos verdes — De íris verdes? — Como um Gato A galgar sem paredes, Nem muros, nem garras. Teus Olhos verdes — De um verde-pérola —, De Pernas amarelas, De Orelhas de abano, Da cor incorruptível de ébano! Teus Olhos verdes — De um verde-mar, Do verbo intransitivo de amar, Como uma Concha emborcada No saleiro da cozinha. 2-8-1997. 6-2-2010.

Odonto Oblíquo

Edigles Guedes O Obtuso Odonto Obsceno O Ofuscado Oblíquo Oblongo 4-8-1997.

Redundâncias do Amor

Edigles Guedes I. Jornalmente, o Amor Arredonda Suas redundâncias… Em nome do Amor: Matam, esfolam, Cortam, maltratam, Ferem, sufocam, Destroem, degolam… II. O Amor secular Era uma vez, Esfriou-se — Só sobrou Amor profano. O Amor de coração Aniquilou-se Amor bandido. 2-4-1997.

A Ponte de Kafka

Edigles Guedes Eu era lâmina de vidro em parapeito de aço, eu era laranja mecânica em chassi de casa; Estendido, cochilava, sobre um arco-íris e flecha de relâmpago eu estava. Ao sul, eu finquei as pontas dos meus pés em rocha tão doce de leite e sedentária; Ao norte, a minha cabeça, eu encravei em sentimentos tão grudes e sedimentares; Ao leste, o meu direito braço, eu incrustei em pensamentos tão fugazes e magmáticos; Ao oeste, o meu esquerdo braço, eu enfurnei em contentamentos tão ameixas e [metamórficos. Mordi o lodo quebradiço da rocha vulcânica, em que me apoiava. Embaixo de mim, sorria [um Riacho, límpido e tímido, de águas gélidas. Fiquei plutônico, quando vi um homem: Engenheiro, decerto. Ele me vociferou: — Ergue-te, Ponte, não te cambaleias, dá-te a [conhecer Como se fosse um monstro enciclopédico da Idade Média, em que figuras nalgum [palimpsesto! Ele veio e me golpeou. Era uma enxada, aquilo? Era uma pá, aquilo? Ou era uma varinha de Condão, aquilo? Com a pon

Poesia Têxtil

Edigles Guedes Esta Poesia Tem a textura De indústria Têxtil. Esta Poesia Feita a lápis De cerebral Engenho e cais. Esta Poesia Aristocrática, Kierkegaard E anil com canil. Esta Poesia De Minério Lavado na Bacia do Rio. Esta Poesia têxtil… Tão tragicômica quanto um Rubi, Tão trailer quanto um Diamante, Tão Mulher de si! Esta Poesia têxtil, Geometricamente, A metamorfose da Borboleta em larva. 3-8-1997. 5-2-2010.

Carolina

Edigles Guedes Carolina, Aposentaram O teu nome De Mulher… Por Carolina Nomearam Um pacote De leite Desnatado, Pasteurizado, Longa vida: 1 litro De conteúdo. 10-8-1997.

Pretérito, Presente, Futuro

Edigles Guedes O Pretérito São reflexões, Ensinadas E aprendidas. O Presente São ações, Como uma caixa De surpresa Dentro Doutra caixa De surpresa — Presente de rei. O Futuro São linhas De perspectivas Geodésicas. 7-7-1997.

Coletivo

Edigles Guedes Uma Rosa, A Flora. Um Ovo, A Fauna. Uma Leitura, A Biblioteca. Um Alguém, O Povo. Um Veículo, O Coletivo. 11-7-1997.

Pequeno Poema à Amada

Edigles Guedes Pediste-me um Poema, Que não escrevi; Por isso, tão somente a ti, Dístico, declarei: — Eu te amo! 7-2-1998.

Espinho da Carne

Edigles Guedes O espinho da Carne É intangível E pavoroso — Egocêntrico: Minha Ignomínia! Embora seja este Espinho da Carne Que me torna Forte, Ele me faz lembrar O quanto Fraco estou!… O espinho da Carne É indelével E doloroso — Orgulho de Pato Pateta: patético!… O espinho da Carne, Como eu gostaria que Você não existisse!… Mas, me resta sagaz Essa Franqueza assaz! 10-7-1997. 5-2-2010.

Você é

Edigles Guedes Você é: Meu doce de Amêndoas, Com sabor de Mágoas. Você é: Meu favo de Mel, Destilando Fel. Ah… que delícia de Abacaxi tu és! 8-12-1997.

À Feira no Sábado

Edigles Guedes — Mô, você vai à feira no sábado? me traga de compras na sacola Uma bomba de Hiroshima e outra de Nagasaki. Pra quê? Ora, pra Jogar no Congresso Nacional de Poesia. Só assim a gente se livra dessa Conversa de sapo enfunado a la Manuel Bandeira, que corre nos bastidores do Senado Federal. Ah! se eu fosse um terrorista (risos! ainda bem que eu não o sou!) Plantaria uma bomba de plutônio no pé da porta com detector de metal de Cada agência bancária, e todas elas se frustrariam, uma por uma, maquiavelicamente, Só assim a Poesia não ia à bancarrota. Me desculpe, meu bem, esses versos de humor Míope… É que hoje eu amanheci azedo que nem bomba atômica! Se eu calar, explodo: bum! 4-2-2010.

É Tempo

Edigles Guedes E tudo tem o seu Tempo determinado, bem polido, acabado e Feito. “E há tempo para todo o propósito debaixo do céu!” Sobretudo, hoje (que todos os dias sejam sempre domingos) — É tempo de Amar. Amar e se calar nas fronhas de travesseiro teu. Amar tão contundentemente o teu Corpo de mulher, Deitado na cama entre lençóis de amor e orgasmo, Que eu me perca dos propósitos debaixo do céu da tua boca!… Hoje, é tempo de fazermos amor no escurinho do Poema, Antes que a censura descubra e nos chute pra fora do País Das Maravilhas, como a Rainha e o Rei de Copas fizeram com Alice. Psiu! se cala. Calemos nós dois, enquanto é noite e o inverno tirou férias escolares. 18-7-1994. 4-2-2010.

Tristeza

Edigles Guedes A tristeza do Poeta é tão hipertensão arterial: Como quem quer o corpo abraçar, Mas lhe faltam os braços!… Como quem quer a boca beijar, Mas lhe faltam os lábios!… Como quem quer a mão apertar, Mas lhe faltam os dedos!… A tristeza do Poeta é tão sistólica, Como sistólico é o poço no Sertão de sol — Poço de osso e Morte, Sol de couro e jegue. A tristeza do Poeta é tão diastólica: Tal qual o mar no litoral, que Joga de si os seus próprios sargaços. A tristeza do Poeta é tão hipertensão arterial e Sistólica e diastólica: quanto! Quanto só não é igual a ela mesma — Numa madrugada no hospital, Fazendo check-up ou passeando no corredor da clínica geral!… 9-12-1993. 4-2-2010.

Olhos, Corpos & Gestos

Edigles Guedes Os Cristais se partem, Os Diamantes racham, Os Sóis se findam, O Aço se quebra. — Dois olhos se encontram. As Estrelas padecem, Os Rios enlouquecem, Até as tórridas Flores sucumbem Em falaciosos Fractais. — Dois corpos se encontram. A Ametista perdeu o seu brilho. Um lago de Amor secou. A Lâmina da gilete cegou. O Documento não testemunhou. O Mundo sopesou o Si lên cio. — Dois gestos se desencontram! 2-7-1994.

Conversação com Pernambuco

Edigles Guedes — Pernambuco, para as más línguas não dizerem, que Eu comunguei com os que te difamam, pelas costas… Para não dizerem que eu, com os que maldizem, comunguei O teu rio Capibaribe, Onde pululam populações poluídas ribeirinhas; As tuas belíssimas praias de Boa Viagem e Candeias, Porto de Galinhas, Ponta de Pedra; O teu rio Beberibe andrajoso; Os teus estanhos manguezais, Onde proliferam goiamuns e palafitas; As tuas pontes, Maurício de Nassau e outras, de datadas séculos e séculos, Ligando, de ilha a ilha, esta Veneza de cana caiana; As tuas ruas tombadas — Patrimônio Histórico de Olinda —; Aqui está este poema. — Não nada me dizes, Pernambuco? Pois, jamais almeje deste poeta menor, uma grandiloquente tua exaltação, Tu não a mereces… Sinceramente, nós não nos merecemos! Em ver contenta-te, cavalgando Nas tuas terras massapés Esta de clown alacridade, Esta mordacidade de quem Já mordeu cego muito nó; De (ironicamente) quem pouco conheceu os teus enge

Pássaros, Assassinatos & Flores

Edigles Guedes Pássaros voam pela minha Cabeça, rasantes, São verdes, amarelos, vermelhos, São melros, rouxinóis, papa-capins, bem-te-vis, canários. Um trem-bala — trovejantes de pássaros… Lá fora, o latido-soluço do Cachorro É Silêncio partido em dois, Por Faca uma de dois legumes — assassinato! Um melro assassinado na street Madson , Acorda um bairro inteiro. O ploc! do corpo abafado Perturba os sonhos Dos trabalhadores atarefados; O ruído, contínuo e incessante, atiça Uma de pessoas turba curiosas. A rua enche, A praça estoura: A Quinta Avenida desaparece do mapa. Uma confusão interminável se instala: Choros roxos e alaridos rostos, De boca em boca, Numa inundação… Depois, será novamente a Primavera, estação das flores, Cujos odores maciços se espargirão pelos ares, Dos adentro lares e das narinas; enquanto por, O que há de concreto é esta dor de bomba muda de hidrogênio… Hoje, a fachada do prédio encontra-se limpa, Sem da inocente o sangue vítima, q

Política

Edigles Guedes Para Carlos Drummond de Andrade O deputado estadual Debate com o deputado federal, Qual deles é capaz de parlamentar O senador Fulano de Tal. Enquanto isso, no Congresso Nacional Há faltas de estadistas políticos. 13-2-1994. 

Alto e Baixo

Edigles Guedes Uma Madame vai ao Shopping Center e compra: Sapatos, anéis, bijuterias, Jóias, cosméticos, supérfluos. E pensa: ter ou não ter? — eis a questão. Eu tenho, logo existo. Um Caipira óia , não compra nadica de nada, e diz: — Eta consumismo besta, sô. 1-11-1993.

O Galo

Edigles Guedes O Galo Galanteia as Madrugadas, insone, Galanteia solares os Raios. O Galo, De alta Crista e escarlate, desperta O vespertino-carmesim, pacatas, das nuvens. O Galo — Pinto a pouco que saiu do Ovo — Esbraveja suas asas, do povo num Canto. O Galo — Cavaleiro, de Penas heráldicas, alado —, Altissonante, ruge suas hereditárias Façanhas. Por Galo, Entre contraditório si de contrastes, costura as Manhãs Com intangíveis Linhas de Ecos sonâmbulos, Que tecem o Tecido vígil O Tecido vil e das Manhãs seda Em galos. Por Galo, Este tino Operário sem dos Amanhãs, Que compõe sinfonicamente A Orquestra hora da última, Em de Vozes harmonia outras: Os galos. 8-12-1996. 4-2-2010.

Cânticos de um Homem Histérico e Pós-moderno

Edigles Guedes Álefe Ela, seu rosto — vaso oaristo do grego de alabastro, O relógio tilintava os centavos dos segundos que estende a mão e esmola pede, Uma maçã de zebra com risco pousada na mesa quadrúpede, A estante sem pejo de livros corisca adormecida de bela, Aquele rosto de queijo ralado, convidativa, com 0% de gordura trans — que Abusava do brumbrum da manhã dentro do estojo de cor de lápis. Quem me dera que essas horas fossem manhãs partidas Na geladeira malcriada de casa! No quintal longínquo não encontro o relógio do galo anunciando a Madrugada propínqua. Onde estão as rosas amarguradas de espinhos? Bruega fininho. Em que jardim Tu a plantaste, bela Sulamita? Ela parida de baby-doll nas linhas de prontuário médico Que deixa estar amarela de rascunho para Poe e Pound, Galego e galante, Trovador trovejante. Ela me disse ao pé da orelha que não cala: Beije-me como se beijam os beijos dos beija-flores… O Amor é que me engenho, Fralda podre que cai da árvor