Epifania do Carcará

Carcará, ô Carcará, que vida sem furo é esta nossa!

Mano oh mano, olha, Carcará!
Você repara o meu cenho carcomido?…
Isso foi de tantas diminutas esmolas
Pedir: da cabaça, uma gota de gole d’água;
Da lavoura, uma espiga mirrada de milho.
Foi assim que trespassei de lesma viajante a pedinte errante.
Esmoléu que sou; angariando o de comer pelas rodagens da terra ao céu.

— Ave, Carcará!
Nós somos,
Antes de tudo,
Uns fortes!
Nós, mano velho,
Nascemos
Para superar
As agruras
Renhidas da
Morte colhida
Nos pés de
Mandacarus
E marmeleiros!…

Carcará, ô Carcará, que vida sem futuro é esta nossa!

Mano oh mano, olha, Carcará!
Haja vista os vultosos empréstimos de calor
Em nosso reles sertão nó(r)-destino,
Se você não cavar sua cova humílime,
Como comerá o carrapato do boi?
Como comerá o cadáver fétido do boi?
Urubu matreiro que é, comendo na mão e o queijo com a faca,
No seu ofício de desentranhar os vermes de cada um de nós!…

6-2-1999. 17-2-2010.

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