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Mostrando postagens de setembro, 2010

À Espera de Uma Carta

Edigles Guedes Lamentavelmente, eu esperei a tua carta, Postada nos correios; Mas a tua carta não veio. Decerto, não me deste aviso De tua parcimônia, De tuas letras parcas, De teu trancado cofre Às sete chaves, De tua canção maleita, De tua sensatez eleita Para o dia insano qual breu ou névoa!… Doravante, esperarei que me passes Um e-mail , um desses correios biônicos… Talvez assim se dilua em mim Essas tuas palavras enfartes, Palavras de amor ou ódio (Eu não sei) ou de amizade Quebrada na malária da tarde. Avante, chorarei ou cantarei de alegria Infinda tão quanto a noite conforta, Tão infinda quanto a agonia Dos pássaros sem postes elétricos Para pousarem suas mágoas E cânticos de tábuas burras como porta! Como eu sou bobo!… Ao acreditar em ti, Se uma mera carta (Ainda que de cortesia) Não me enviaste!… Lamentavelmente, eu esperei a tua carta, Mas a tua carta não veio; Porque a carta nunca existiu! 4-9-2010.

Um Rato

Edigles Guedes Ele chega de mansinho, Calça os quartos de lã, Calça a vida de roído E dor subjacente ao dia, Que vomita suas fezes. É pequeno do tamanho De uma amarela febre, Rápido como uma travessura De criança, que nem lebre Em manha de pernas e salto. De pelos crespos e mornos, De sangue quente como touro, Persegue coisas miúdas sem valor, Restos de pão e ternura, Que caem da mesa do dono. − Meu patrão, com quantos paus se mata um rato? Roedor compulsivo, Não fecha a boca Por um instante sequer, Rói cadeira, mesa, Rói escombros de chão, Rói a pia que pinga Violão de som na manhã, Rói as horas graves na caixa De presente do relógio Na parede cor de pêssego, Rói as folhas e serpentinas Dos livros caducos, Irremediavelmente caducos, Rói até as esquinas Da água potável na sanitária bacia. − Meu patrão, com quantos paus se mata um rato? Ratos – pragas urbanas! De mamíferas mãos Manuseando os móveis Tão imóveis quanto merencórios; Manuseando

Mesa sem ti

Edigles Guedes Engendro-me na tinta Atlética do dia, Que não quer aquecer Este corpo imberbe Em decúbito dorsal Sobre a cama vazia. Engendro-me na tinta − Mapa-múndi de mim – Que não quer aquecer Este trapo corpo De lodo, de corvo Estropiado que pia. Engendro-me na tinta Ferocíssima que me mozarteia, Que não quer aquecer Este suco de corpo ao pó, De engodo sem escrúpulo, De trampolim sem tábua. Engendro-me na mesa Fosca, sem tinta nem lápis, Sem esquadro nem compasso, Sem os sens ou os cons de mim! Mesa sem ti, Amor, tão fria e só, Quanto eu em mim, em ti e mim… 1-9-2010