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Mostrando postagens de 2019

Mar

1 Por questão de lã de cágado, Presumi: volúvel mar É que destramela a língua De onda sobre si; calar? Está longe seus pensares, Quando me atenho do amar, Esse verbo tão cativo, Quanto canção de ninar; Contudo, a estreito ver, Em mim, não quer do romper As cordas que desatrelam O fluido voo tão ávido De pássaro, por ninguém. 2 Mar, que volúvel, de volta E vai, refaz seu percurso Por pássaro de viajante, Sem demasiadas as farsas De uma aventura qualquer, Festejada nas do tempo Suas teias, que me amanha, Tal como aranha sem mapa Ou bicho miúdo e qualquer, Escravo do rastejar Putrescível, muito cravo E espinho é seu caminhar, Agravo que me põe nervo. 3 Mar: a língua de suas ondas, Ebrifestivos ventos Deixam-me víneo de ver Bulício das águas antes E depois, redondos círculos, Que se abrasam, feito coito Animal, com sua pureza E avareza igual, aceita A nudez de corpos tantos, Que amor fez questão de junto Amalgamar — fúria e fleuma, Únic

Cristalino

Eu distingo teu rosto Cristalino de mágoas. Antes que fosse rosto De melhor cristalino, Que pinte o desfortúnio Com tinta mais fortuita De pintor conhecido Por incógnito estilo Da crítica ferida. Quiçá ser cristalino Do mar e suas águas, Que me ensaboam; pranto De suor, sal e sol; Dia vindouro: porto, Onde atraca pavio, Curto ou comprido; olvido, C onforme cruz de enxeco, Que cada qual carrega. Quiçá de cristalino O rio e suas águas, Que me banha de seu O sangue demais doces, Que me banha intestino De quem profuso falta, Por amor ou calar, Derradeiro perdoar. Quiçá do cristalino Que existe no metal, No metal rija faca, Que tanto me consterna, Quanto me sarapanta, Em sua baba de fúria, Em sua boba lamúria, Em sua boca a secura. Quiçá esse cristalino, Que existe no cristal, De nome ou exercício, Sem outro de si igual: Impermisto, acessível, Carrasco por mingau, Que na boca dilui A coisa que era tal. Porém, não! No teu rosto Havia o cris

Percevejo

Ó percevejo, amigo, Por onde andejas? Se não te vejo mais, Nem por um breve Instante, seja vindo Ou indo, nas ruas feitas Por mãos humanas! Ó percevejo, amigo, Por onde cantas? Se desdá som de vozes, Demais distantes, Tão benquistas a mim, Como flor de jardim, Dentro da estufa! Autor: Edigles Guedes.

Azul no Horizonte

Azulei no horizonte, De ti fiquei distante, Mas não distante calvo, De dística distância… Isto nunca! Distante: Que se perde na linha Do enigma desse dia, Tão claro, tão escuro! Eis que distância fez-se Fora da mão, de palmo De terra, onde se pisa, Cada qual com seu ramo De oliveira, em hosana, Dita para as alturas — Cavaleiro sem elmo… Pisar: onde frituras É capaz de coser O tempo na ponta hirta Da agulha de crochê, Que dorme em cesto Tão costureiro, Quanto me presto!… Azulei no horizonte, E o azul virou anil. Tenho curto pavio. A vida é curta Ou de longa-metragem? Filme de faroeste Ou de terror nas veias De quem a assiste passar, Por destrancado No quarto de dormir, Sonhando com feliz, De tão desinfeliz?… Felicidade, não vem?… Autor: Edigles Guedes.

Beijo em Apenso

Na ponta daquela língua, Há dito preso nas grades Do pensamento, por dentro Do cérebro matutino, Que desperta madrugadas De pássaros ressentidos, À janela de uma casa… Engasgado na goela, Pinga uma gota amarela De pus ou gangrena, tísica Que mastiga a metafísica Das horas de rouxinol, Quando sopeava no sol E, de roxo, se despela… Entortado na moela, Demasiado me engasta Esta sorte tão madrasta!… O sorriso, que tigela Não quis brindar à panela, Floriu em teus lábios densos: Um beijo parvo em apenso… Autor: Edigles Guedes.

Semelhante

De vez em quando, alguém me lembra dos meus semelhantes… Eu me pergunto, cá, com os meus botões: — Quem seria Semelhante a mim, se tão díspar eu sou de mim mesmo? Quantos viram o gato mirabolante de Alice, Zombando, à distância bruta, com seu riso galhofo, Isto ao vivo e a cores, sem aparelho tevê? Quantos ouviram o sussurrar de pedras viandantes, Aos seus pés; entretanto, ao virar-se para sondá-las, Não encontra nada — simplesmente nada por caldo Ou vírgula — , além do simples chão prosaico, de costas Dadas, ao pisar hesitante de meus próprios pés? Semelhantes a quem? Se até os ouvidos, nutridos De surdez, querem me fazer de palhaço de circo? Semelhantes a quem? Se até sentido da visão, Desprovido de seu senso crítico, me faz bobo Da corte de algum rei, que de tão bom, torna-se déspota? Quem seria semelhante a mim, Se tão contrário aos seres eu sou? Autor: Edigles Guedes.

Rabiscos no Livro

Hoje, fui bater pernas, Como quem não quer nada; As pernas automáticas Me levaram ao sebo, Onde se vende uns livros Puídos, ora mofados, Ora sujos de poeira Antiquíssima, pois, Perdida por aurora Em tempos tão distantes. Me encantei pela capa, Fútil livro qualquer, Tudo indica que velho, Rabugento, matreiro, Solto às traças das horas, Dado às baratas sérias, Que passeavam sórdidas Nas prateleiras bambas De pés, sem a firmeza De costume ou destreza. Minha mão claudicante Pousou naquelas páginas Tão empalidecidas… Ao meu toque de bruto Ogro, desabrochou A flor deslumbradora Das letras cativantes. Rendi-me, então, pasmado: Duro piscar de pálpebras, Comprei o livro. Súbito, Arrochei minhas vistas Numa pequena mácula; Aliás, não era mácula, Mas, sim, miúdos rabiscos Na introdução do livro. Meu coração padece, De furta-dor, me sinto Como quem levou pito. O vendedor passou-me A perna, vendeu gato Por lebre. Nada obstante, Ao reparar no traço, Q

Sôfrego e Trôpego

No primeiro bar de esquina, Hoje, inda hoje, te prometo Solenemente, de pés juntos, Mão deitada sobre a Bíblia, Como fazem nos tribunais. Vou encher a cara de poesia, Vou tomar todos os porres poéticos, E chegar em casa trambecando, Como fazem as moscas ébrias. E a cada passo claudicante, Entupirei os esgotos da rua, Com meu vômito mudo de poemas. E me lambuzarei todo em meu próprio E descabido vômito, Como fazem os porcos, Por amor surdo à lama, Porque só assim eu me vingarei do mundo… Mundo que só me deu duas coisas: — Escarro e gripe! Mas, eu também não fui santo, Devolvi-lhe o melhor de mim: — Este cuspe sôfrego E este poema trôpego! Autor: Edigles Guedes.

Boca no Trombone

Vamos pôr a boca no trombone! — Sol a culpa é tua! Por não brilhares intensamente, A tristura aconchegou-se No meu coração enxota-moscas. Vamos pôr a boca no trombone! — Lua a culpa é tua! Por não cantares as canções mais Agres de ninar, A tristura aprochegou-se De mim e fez guarida no meu Coração enxota-moscas. Autor: Edigles Guedes.

A Lei

Certa feita, Fulana me disse: — E você tem coragem pra debochar de mim? Corrijo-a, instantaneamente, Para não perder o fôlego: — De mim, de ti, de nós e do mundo; Senão debocho, morro! Subo o morro e não me canso, Pois subo de carro ou de trem; A pé, sequer nos sonhos! É a lei: Dente sem dente, olho de molho. Autor: Edigles Guedes.

Vá! Eu vou...

Vá! Vá! Vá! Pise fundo no acelerador! Fure os sinais de trânsito! Atropele os pedestres! Não se importe com os postes De iluminação pública! Deixar barato o hidrante? Nem que fosse no sonho Com a fada madrinha. Calçada é estrada! Suba no meio-fio! Que os outros comam poeira! Atravesse o mundo em lisos pneus rinchantes… Eu, que sou prudentíssimo como as serpentes, Vou de táxi. Autor: Edigles Guedes.

Sorriso e Motor

Demais desejo O teu sorriso de mobília Inteira, sem faltar um pedaço Sequer do fruto consentido De poucos beijos. A solta e voa cabeleira, por janela Do carro a cento e tantos quilômetros por hora, Até que pneu derrapa, e a gente bota o pé no mundo. Mas morre não. Que susto da vida! Motor suspira. Autor: Edigles Guedes.

Pássaro

Cuido que não sucedeu manhã, Se bem que um pássaro chilreou. Janela sonsa que despertou O Sol de sua órbita celeste. A meu ver, não sucede manhã, Porquanto meus olhos se baldaram De tuas lágrimas, que escorriam Da tua fronte afora, caindo No meu regaço, abrigo de bruta Falácia; tu, porém, não te deixas… O engodo em boca desvanecer. O Sol, fulgente e bravo, por sorte Enxerga o teu rosto tão regado Das águas — mordem as duras mágoas! O astro, veraz na constelação, Estreita as mãos para te abraçar. Chamejo os ciúmes, e cuspo a fúria, Desato o fogo, trovão de amor. Digo-te o quê? Pássaro chilreante? O simples: não o vi, tão somente Escuto um lindo cicio de canto, Deitado à casa com sua janela. Autor: Edigles Guedes.

Inteiro

Ah! O conceber-me por inteiro, Quando, em verdade, sou metade Da metade do inteiro fútil, Que não sou. Nunca inteiro sonho Em ser; se não me cabe, ponho Na fronte aquele inexpressivo Til, como tal chapéu de palha Do campônio tão vespertino. Ah! O cindir-me entre inteiro e não, Que não cabem nos livros vesgos De matemática, de páginas Marcadas, ressabiados, frustros, Orelhas queimadas por dedos Lépidos, ao virar a folha Qualquer, de medo ou avidez. Medo que o dia acabe em nada, Sem leitura na tabuada Dos números da fina vida. Avidez de quem sofre a gula Dos segundos tão raros, díspares. E eu que não sou veraz inteiro, Cheio de muitas e lutas lástimas, Vivo de rastejar meu corpo Por entre ruas e tetos caros, Por drope flor espezinhada E jardim tão despedaçado!… Espatifado por patifes, Que desconhecem o prazer Do singelo cheiro da flor!… Ruge coração por amor, Que se foi, sem dizer adeus, Sem ponto final, sem o Nada! Autor: Edigles Guedes.

Cachoeira

O que é que eterna cachoeira Sabe? Sabe do escorrer Por entre rochas, às vezes, As rochas secas e agrestes; Sabe o pular literal Dessas rochas méis, às vezes, Umas rochas rudas e íngremes. Foi à toa que cachoeira Virou anos e anos a fio De faca sorte, no curral Das ideias da Natureza? Só pra soletrar o escorrer Miúdo de criança em escorrego? Depois, soletrar entre rochas O conhecer do pular Por entre rochas, as outras? Não. Pensar em desperdício Jamais, a Natureza é Frugal, como ínvido pulo De gato, por um instinto Que lhe é tão circumpolar. Autor: Edigles Guedes.

Albergou-se Sentimento

Albergou-se, cá, em mim… Um sentimento inédito: Não era o sentimento Costumeiro de tédio, Não era o sentimento Toureiro do nirvana… Albergou-se, cá, em mim… E não paga aluguel, E não faz um contrato De locação por tempo Determinado, como Locatário oportuno… Albergou-se, cá, em mim… E jamais quer saber De sair, nem que seja Para uma caminhada Na esquina da avenida, Para ver o passear Das pernas de ciclistas… Albergou-se, cá, em mim… Nem pensar em sair, Por um triz de minuto, Que fosse ou transmigrasse. Eu, que sou locador Desse sentir avesso, Perquiro aos meus botões: — Onde é que fica o berço?… Autor: Edigles Guedes.

Ulisses e a Dama do Laço

Chamo-te infinitas vezes pra dentro Do quarto, dormir, calma das mobílias. E vezes infindas me denegaste O vir para meus braços tão carentes… Carentes de quem? Ah! Dama do laço… Por que me negaste o vir para meus Braços, se te chamam fragosamente? Como chama ou flâmula tão pequena, Mas que me formiga, meiga morena E sirena, serena da sereia De Homero, olvido na estante de casa. Ah! Ulisses de volta ao deleite, leito Com muito amor… Amor por sua Penélope, Amor por Ítaca; e Ítaca conserva-se Tão longe, que pena o coração doído; E Penélope está tão longe, longe, É somente um nome perdido ao vento, Que sussurra logo um pedido isento. Ah! Esse Ulisses largou de uma existência Com riscoso riso na prateleira… Autor: Edigles Guedes.

Quando te vi…

Quando te vi, meu coração disparou Desembestadamente, cavalo afoito Por campo verdejante e dia luzente. Minto, não te vi, pois estava tão cego De amor, que desmaiaram as minhas vistas No teu colo sereno, seixo e flautista. Autor: Edigles Guedes

Liquidificador e Suco

Exprimir-me, como esse liquidificador… Sentir-me completo, vasto e tão vulgarmente útil… Tirar-me os grilhões, que me atam ao chão, que prolongue… Sacudir-me a roupa, jogando o pó para longe… Perder-me inteiramente num proferido soco… Achar-me, no mínimo, as partes num esculpido… Extrair o delicioso suco De intragável fruta, manhã fútil… Fútil vida de quem merece alto Os haustos da delinquida aurora… Regato rumoreja os tardios Passos da água por rocha, com brios… Autor: Edigles Guedes.

Lutas Inglórias

Brinque e pinique com meu coração risível… Andarilha, navega por terras de carnes Opulentas; teu corpo fascinante… raça De carnívora, que me devoras as pernas; Víbora, com sua língua tão bipartida, Me consomes; prudentíssima cascavel… Os beijos mais sílfides, que agora provei; E jungidos em colcha de penas, dormimos; Amanhecemos, tão sorridentes, fagueiros; De tuas mãos e carícias mil não me privo… Jamais! Jamais! Jamais! Jamais! Repito o silvo, Por longa, densa, enfática e errática, salvo A selva — mansuetude em flecha arcaica no alvo; Saliva que me nutro, como leite níveo Nos lábios do bebê nu — regaço de mãe; Da tua boca, sorvo mais o hálito puro Das manhãs e neblinas que vagam aqui; E mergulho fundo nas proezas de teus braços; Façanhas provocam-me em suspiros, delírios, Que me incutes pelos lençóis alvinitentes; De tua entranha arranco os agudos suplícios; Ah! carne de proezas, que me fazes gemer De gozo infindo, abocanho-te, gemebundo; Mastigo tuas pa

Disparo Despido

Ao longe, ouço um disparo despido, Não é de fuzil, nem de pistola, Nem de revólver da artilharia… É um disparo desesperançado De coração partido por dores… Angustiado por não amar O suficiente, para suprir As copiosas atenções de quem Confessa que seja o seu tesouro… Lá fora, soa a voz de mamãe… Angustiado por não amar O suficiente um mundo pequeno E frágil que mal cabe na palma De sua mão, tão colossal e sábia… Lá fora, sopra uma brisa calma… Partido coração se quebrou Em cacos mil, como vaso azul De porcelana, tão estimado Por mim, olvido nas folhas secas De um livro de outrora, sobre estante. Celebremos, vamos! O partido Coração, que intransitivo, caiu De tão maduro, não se susteve Em árvore alguma, antes, deteve, Quanto pode, o disparo despido! Autor: Edigles Guedes.

Calo e Sopapo

Caso pise no calo De algum desavisado, Este lhe retribui O favor merecido E empresta-lhe um sopapo, No meio do focinho Ou no pé da barriga. Por que escrevo logo isto? Pego-me a indagar, De vez em quando, sobre Estas fúteis questões. Digo, não me interessa Pisar no pé de alguém, Seja incauto parente Ou seja um aderente, Não me interessa o soco, Emprestado com juros, Correção monetária Dos bancos, que não são De praças (e repúblicas?), Nem bancos de esperas Dos hospitais ou clínicas, Para exame de próstata Ou glândulas mamárias. Nunca! O que me importa É este do pisar O ímpeto do pé alheio, É este do fervor Do soco na barriga De outrem, desconhecido, Quem não goza do travo Tão salgado e tão doce Da amizade invocada. Toda ação formidável Vale, ao menos, um beijo Na orelha de uma moça Ou beijo roubado De noiva, que debanda Infrene dum altar? Autor: Edigles Guedes.

Soco Poética

Eu amo um soco bem-dado; Não amo o soco dos pugilistas, Nem amo o soco dos lutadores De vale-tudo, nudez dos corpos. Jamais! São socos prosaicos, Com muito sangue espirrando, Com hematomas à flor da pele. — Desperdício de violência Gratuita e barata de fim de Semana, com curtição às tantas! O soco que eu amo, De cor e salteado, É o soco do chinês. Que soco tão poético! Tira a gente do chão, Faz viajar por espaço infindo, E, depois, joga-o na cadeira Abaixo, estupefacto: sem Fôlego, sem sangue jorrar, sem Hematoma, sem violência — Tão somente um borrão De soco, e nada mais… De fato, imperceptível Às câmeras de vídeo! Intangível ao tato Tartamudo das horas! Poesia é assim, não Se rende aos olhos nus, Nem aos microscópios Das inteligências alheias; Todavia, põe cabisbaixo O sujeito, depois de um longo Passeio pelo espaço, Aliás, destrançá-lo Da poltrona do chão! Autor: Edigles Guedes.

Passeavas

(Rondó II) Passeavas entre flores, Qual cantava sus! canário, Álacre, entre pedra e rio, Numa tarde bonançosa. Umbuzeiro, que te viu, Abismou e, ao alvedrio, Protestou muito arredio: — Que mulher assaz cheirosa! Que perfume ela usa? Incendeia esse cenário. Ela deixa, de ordinário, As palavras graciosas! Passeavas entre flores, Qual cantava sus! canário, Álacre, entre pedra e rio, Numa tarde bonançosa. Eu? Falar o quê de mim? Prisioneiro de desvario Serei sempre; e se, por sóbrio, Logo digo: — Ó mimosa, Dá-me o nobre coração! Você, lá, responde no átrio: — Me desgosta o locatário De intenção pretensiosa! Passeavas entre flores, Qual cantava sus! canário, Álacre, entre pedra e rio, Numa tarde bonançosa. O porquê não sei… Me perco Entre o lírio e o martírio Por amar-te em delírio, Benquerença amorosa! Porém, és a desalmada Que me faz sentir calafrio, Ao pisar em sedentário Coração sem meigas rosas. Passeavas entre flores, Qual cantava sus

Mágoa

(Rondó I) Dura mágoa que levou Doce amor de mãos mimosas. Ah! Não leve sonsas rosas, Distrações por mim colhidas. Ela nutre grã donaire. Ela goza do cetim Boa pele de carmim; A aparência, cor de vida. Quando a vi, céticos olhos Dilataram. É miragem? Ou tardia e fátua imagem Por meu cérebro tecida? Dura mágoa que levou Doce amor de mãos mimosas. Ah! Não leve sonsas rosas, Distrações por mim colhidas. Ela sorve puro incenso. Ela troça da selvagem Iracema, a índia jovem; A decência, decidida. Quando a vi, célebres olhos Ponderaram: — É delírio? Ou um cisco de colírio, Ou já musa esquecida? Dura mágoa que levou Doce amor de mãos mimosas. Ah! Não leve sonsas rosas, Distrações por mim colhidas. Ela frustra meu suplício E degusta o mel da boca, Com sabor de soez pipoca; A elegância, dor de lida. Quando a vi, erráticos olhos Proclamaram: — É quimera? Ou outra sombra de megera Por meu âmago urdida? Dura mágoa que levou Doce amor de mãos mimos