Mágoa



(Rondó I)

Dura mágoa que levou
Doce amor de mãos mimosas.
Ah! Não leve sonsas rosas,
Distrações por mim colhidas.

Ela nutre grã donaire.
Ela goza do cetim
Boa pele de carmim;
A aparência, cor de vida.

Quando a vi, céticos olhos
Dilataram. É miragem?
Ou tardia e fátua imagem
Por meu cérebro tecida?

Dura mágoa que levou
Doce amor de mãos mimosas.
Ah! Não leve sonsas rosas,
Distrações por mim colhidas.

Ela sorve puro incenso.
Ela troça da selvagem
Iracema, a índia jovem;
A decência, decidida.

Quando a vi, célebres olhos
Ponderaram:
É delírio?
Ou um cisco de colírio,
Ou já musa esquecida?

Dura mágoa que levou
Doce amor de mãos mimosas.
Ah! Não leve sonsas rosas,
Distrações por mim colhidas.

Ela frustra meu suplício
E degusta o mel da boca,
Com sabor de soez pipoca;
A elegância, dor de lida.

Quando a vi, erráticos olhos
Proclamaram:
É quimera?
Ou outra sombra de megera
Por meu âmago urdida?

Dura mágoa que levou
Doce amor de mãos mimosas.
Ah! Não leve sonsas rosas,
Distrações por mim colhidas.

Ela gora meus arroubos
E conduz-me ao bom Céu,
Com tambor de Lua ao léu;
Petulância, flor cindida.

Quando a vi, melosos olhos
Divulgaram:
É devaneio
De demente? Assim eu creio,
Por meu íntimo banida!

Dura mágoa que levou
Doce amor de mãos mimosas.
Ah! Não leve sonsas rosas,
Distrações por mim colhidas.

Autor: Edigles Guedes.


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