Soco Poética



Eu amo um soco bem-dado;
Não amo o soco dos pugilistas,
Nem amo o soco dos lutadores
De vale-tudo, nudez dos corpos.
Jamais! São socos prosaicos,
Com muito sangue espirrando,
Com hematomas à flor da pele.
— Desperdício de violência
Gratuita e barata de fim de
Semana, com curtição às tantas!
O soco que eu amo,
De cor e salteado,
É o soco do chinês.
Que soco tão poético!
Tira a gente do chão,
Faz viajar por espaço infindo,
E, depois, joga-o na cadeira
Abaixo, estupefacto: sem
Fôlego, sem sangue jorrar, sem
Hematoma, sem violência
— Tão somente um borrão
De soco, e nada mais…
De fato, imperceptível
Às câmeras de vídeo!
Intangível ao tato
Tartamudo das horas!
Poesia é assim, não
Se rende aos olhos nus,
Nem aos microscópios
Das inteligências alheias;
Todavia, põe cabisbaixo
O sujeito, depois de um longo
Passeio pelo espaço,
Aliás, destrançá-lo
Da poltrona do chão!

Autor: Edigles Guedes.


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