Mar



1

Por questão de lã de cágado,
Presumi: volúvel mar
É que destramela a língua
De onda sobre si; calar?

Está longe seus pensares,
Quando me atenho do amar,
Esse verbo tão cativo,
Quanto canção de ninar;

Contudo, a estreito ver,
Em mim, não quer do romper
As cordas que desatrelam
O fluido voo tão ávido
De pássaro, por ninguém.

2

Mar, que volúvel, de volta
E vai, refaz seu percurso
Por pássaro de viajante,
Sem demasiadas as farsas

De uma aventura qualquer,
Festejada nas do tempo
Suas teias, que me amanha,
Tal como aranha sem mapa

Ou bicho miúdo e qualquer,
Escravo do rastejar
Putrescível, muito cravo
E espinho é seu caminhar,
Agravo que me põe nervo.

3

Mar: a língua de suas ondas,
Ebrifestivos ventos
Deixam-me víneo de ver
Bulício das águas antes

E depois, redondos círculos,
Que se abrasam, feito coito
Animal, com sua pureza
E avareza igual, aceita

A nudez de corpos tantos,
Que amor fez questão de junto
Amalgamar — fúria e fleuma,
Único ciclo que nutre
No seio de si, que lima.

Autor: Edigles Guedes.



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