Querida

Para Ana Cristina Cesar

I.

My dear!
Você é a minha ilha do perdido tesouro,
Um lírio de campo de mulher!
Ana, nós somos um encontro vocálico
— Duas vogais unidas,
Sem hiato de entremeio?

Olhai, Ana, os hipocampos no aquário:
Eles não tecem roupas
Nem plantam o alimento,
Porém, deslizam suaves aves na água.
Como o nosso amor bucólico
Nessas vastas plagas,
São os hipocampos no aquário!

II.

Oh là là!
Você é a minha ilha de Balnibarbi!
Uma Marília de mulher
Sem Dirceu, o chato de galochas!
Ana, nós somos um hífen melodramático
— Uma ponte de união entre
Dois vocábulos sem o espaço no meio?

Nos arrabaldes do alviverde campo,
Eu passeio pastor campestre,
Pastoreando as ovelhas de nosso rebanho.
Aí, encontro-te, linda donzela,
Deitada entre flores melífluas,
Convidando-me a amores indizíveis.

III.

Oh, Díos mio!
Você é a minha ilha de Glubbdubdrib!
Uma Ana Amélia de mulher
Sem Gonçalves Dias dando um de Sherlock Holmes!
Ana, nós somos um sinal de adição
— Uma soma de ímãs que se atraem,
Embora as locuções adjetivas se completem!

Ana, eu vi os vossos verbos pômulos
Confidenciar-me o vosso Amor pêssego.
Ana, eu vi o vosso cenho franzido,
A vossa labareda envergonhada e gris.
Grita bem baixinho, como leoa que sois,
Ao pé do meu ouvido: — Eu te quis, eu te quis!…

IV.

My dear!
Você é o meu condado de Yoknapatawpha,
Uma Eugênia Câmara de mulher
Sem Castro Alves como o detetive Hercule Poirot!
Ana, nós somos um hemorrágico hipérbato
— Dois léxicos violentamente invertidos,
Desordem entre sujeito e predicado?

Ana, sorristes os vossos sorrisos
Como se fosse uma lousa
Desenhada a flor de giz.
— Eis o que em vós me apraz:
Os vossos olhos lânguidos e vorazes,
Encobertos por uns óculos que faz escuro!

V.

Oh là là!
Você é a minha Veneza Americana!
Uma Carolina Augusta de mulher
Sem Machado de Assis que nem o espião 007!
Ana, nós somos uma glândula pituitária
— Sobejamente enclausurada na sela túrcica,
Cavalgando o cérebro de células cinzentas no meio?

Ana — estrela de neurohipófise e ouriço de adenohipófise —,
Sois o meu bom anjo,
Que desceu do céu
Para propalar o Amor
Nesse coração crédulo,
Tão crédulo quanto a chuva, que de tão fininha mergulha no rabisco do guarda-chuva!

5-2-1999. 16-2-2010.

Postagens mais visitadas deste blog

A Lei

Rabiscos no Livro

O Cupim e o Trampolim