Conversação com Pernambuco

Edigles Guedes

— Pernambuco, para as más línguas não dizerem, que
Eu comunguei com os que te difamam, pelas costas…
Para não dizerem que eu, com os que maldizem, comunguei
O teu rio Capibaribe,
Onde pululam populações poluídas ribeirinhas;
As tuas belíssimas praias de Boa Viagem e Candeias,
Porto de Galinhas, Ponta de Pedra;
O teu rio Beberibe andrajoso;
Os teus estanhos manguezais,
Onde proliferam goiamuns e palafitas;
As tuas pontes, Maurício de Nassau e outras, de datadas séculos e séculos,
Ligando, de ilha a ilha, esta Veneza de cana caiana;
As tuas ruas tombadas — Patrimônio Histórico de Olinda —;
Aqui está este poema.

— Não nada me dizes, Pernambuco?
Pois, jamais almeje deste poeta menor, uma grandiloquente tua exaltação,
Tu não a mereces… Sinceramente, nós não nos merecemos!
Em ver contenta-te, cavalgando
Nas tuas terras massapés
Esta de clown alacridade,
Esta mordacidade de quem
Já mordeu cego muito nó;
De (ironicamente) quem pouco conheceu os teus engenhos,
Os teus banguês, as tuas usinas;
De quase nada quem pisou
De solo agreste e árido teu — Sertão.
Veja, meu caríssimo Pernambuco,
A inobservância dos meus perpendiculares óculos
Sobre o meu risonho nariz e cônico;
Veja a voz encardida de velho,
Com suas cálidas mãos e trêmulas;
Veja calva esta cachimônia,
Em quem, raros, ainda grisalhos restam uns cabelos;
Veja que desfaz este ancião a barba pela manhã diabética…

— Desmiolado menino de curtas calças,
E apressado para onde é que vai vestido assim?

— Vou tevê de novo, Pernambuco!
Recordar a ti de televisão por meio de um programa,
Porquanto as tortas minhas pernas
Não de velhice andam mais: os freios ABS travaram o meu caminhar!

5-8-1993. 4-2-2010.

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