O Silêncio que Tenho

Edigles Guedes

O Silêncio que tenho em mim
É tão grande por dentro dele mesmo,
Que chego a me assustar com sua monstruosidade!

Silêncio, meu amigo, por que você não se cala no meu peito?

E restam-me essas inquietações nas horas tristes,
E resta-me o vestido de Rosa
Estragando a minha memória,
E resta-me o sufoco do dia
Que de calor não quer passar.

Onde está o filósofo que disse:
“Um rio não passa duas vezes no mesmo lugar”?
Se eu lhe pego na virada,
Dou-lhe um pontapé no seu traseiro!

Silêncio, meu amigo, por que você não se cala no meu peito?

Desde quatorze anos que rabisco algumas linhas,
As quais os outros insistem em me dizer que são poesias.
Não os creio! Para mim é um desabafo reprimido,
Uma lágrima inconfessa,
Uma piada não contada,
Um objeto não revelado…
Estilhaços de mim,
O barro que sobrou –
Depois que a bala perdida
Comeu os meus cabelos:
Lisos e encaracolados.

Silêncio, meu amigo, por que você se cala tão pó e cinza dentro do meu peito?

Hoje, a máquina um do barbeiro
Devassa a minha ex-cabeleira negra.
E os poucos fios que sobram,
Indagam a mim: — Onde estão os nossos irmãos?
Eu respondo: — Estão na lixeira!
Lixeira que é tão amiga do poeta
Quanto o silêncio!

Silêncio, meu amigo, por que você se cala tão pó e cinza dentro do meu peito?

Salgueiro, 3-1-2010.

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