O Corpo Feminino

Edigles Guedes

A clorofila de tua língua de víbora
Deixa-me nos últimos apuros de suspiros!
As mitocôndrias de teus pensamentos
Causa-me prejuízo além da conta,
Causa-me interferência na antena
Parabólica dos meus sentimentos…

Os ribossomos que coram tuas bochechas
Deixam-me enrubescido! Que sensação
É esta? Sensação demasiado esquecida.
Os cromossomos palpitantes do teu coração
Deixa-me atomatado o meu rosto,
As minhas mãos sobremodo puídas.

Os lisossomos, nefastos, roçando
Pelo a pelo… Tuas pernas cavilosas
Com minhas barbas de Matusalém,
Devagar, bem devagar, vão provocando
O hasteamento da bandeira de Jerusalém:
Em riste, alta, sobranceira, fogosa!…

O teu vacúolo central na minha língua —
Enfebriada — despertaria os desejos vis do marquês
De Sade! Esta noite, não me deixe à míngua!...
Vamos saborear o néctar dos reis de outrora!...
Vamos desfrutar a lânguida, lasciva e lúbrica água:
A água dos jardins das delícias! A-del-rei! aqui-del-rei!…

O teu aparelho de Golgi, abrindo e fechando
Tua vulva, tua cútis e músculo, escondido
Entre as pernas, como uma concha marinha,
Que reserva sua pérola para o pescador astuto;
Deixa-me assaz encantado, maravilhado, estupefato.
Que doce langor de líquido com cheiro de sardinha!…

Oh! não te escondas nessa tua parede celular!…
Não me inflames assim, segredada num envoltório
De celulose. Confesso que hoje eu hei de te amar!…
Meu xodozinho, nós desbravaremos a selva do suprassensório!…
E sendo assim, quero cair em tua arapuca de caçar passarinho,
E num chamego bastante gostoso, vamos fazer nosso ninho!…

Recife, 1ª versão: 19-6-2004.
Recife, 2ª versão: 23-6-2004.

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