Ó Morte, Dama Insone e Insensata!

Edigles Guedes

Ó Morte, Dama insone e insensata!
Travestida de seu fúnebre vestido
De branco, branco encarnado,
Empunhando a foice ingrata.

Ó Morte, Dama de dentes encardidos!
Que ceifa a vida de entes queridos,
Vastas pessoas de boa índole, de bom caráter,
De bom esmero, de boa estirpe e qualidade.

Ó Morte, Dama Negra, usuária do colesterol,
Do enfarte do miocárdio, do besteirol,
Que assola a mente e o coração desacautelado,
Que amola os rins e o estômago desprevenido!…

Ó Morte, Dama darwinista, crudelíssima!…
Que vela pela desditosa vida alheia
E desgraça bastante personalíssima,
Pleonástica e plástica, assim e assaz, de si cheia.

Ó Morte, Dama de agenda cultural
Escabrosa! Com seu corpo escultural,
Estorce o nariz arrebitado e empinado
Do Fardo humano — colosso impávido!…

Ó Morte! Dama daninha, escarninha
Do mancebo e do senil senhor ou senhora…
Ó Morte! Por que não te enxotam
Para longe, como o monstro Leviatã?…

Ó Morte! Dama bacana, de gravata alinhada,
Elegante, segundo sua fé de ofício, como paladino
Do estraga-prazer, que rasga (sopitada)
Os ferros e abraços dos anfitriões da Vida.

Nós, filhos do Carbono e das Cinzas,
Desfalecemos nossos suspiros e mágoas
Perante o horripilante féretro,
Diante a caspa dos maus Estros.

Recife, 6-7-2004.

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