A Fábula do Copo

Edigles Guedes

O Copo jaz sobre a mesa.
O Copo, neutro do mundo,
Alheio de si mesmo,
Eu queria ser, sendo.
Eu queria ser o Copo
De consistência vazia,
Mas de cristal feito;
Não do conteúdo do Copo,
Que pode vir a ser:
Ou a água mineral,
Ou outro líquido qualquer.
Eu queria vir a ser
Da substância copo —
Pedra inerte, laborada
Por humano engenho.

O Copo jaz sobre a mesa,
Sobre a mesa dum bar
Jaz o Copo pétreo.
O garçom serve a um homem
Fogoió, de cabelos desgrenhados,
De olhos verdes e vesgos,
De estatura torta e meã.
O dito Copo foi preenchido
Pela maçangana cachaça,
Esborrando pela boca,
De tão cheio que ficou.
Um homem, cleptomaníaco,
Colocou as patas de fora,
Arregaçou as mangas
— Furtou o cujo Copo.

(Imaginem se eu fosse o dito e cujo Copo,
Agora, abduzido, numa bodega de esquina!)

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