Insone

Edigles Guedes

Chegou. Nem sei que hora a Fera dor me consome o Sono,
A dor de passar o tempo matando o Tempo sem sal de ser,
Somente o insone bêbado das madrugadas alheias,
Tagarelando suas chinelas pelas ruas enlameadas de Salgueiro.

Salgueiro — terra que aprendi amar, deserto de minh’alma.
Certa vez meu pai me disse, em confissão alheia de si:
— Coração de homem é terra que ninguém anda.
Todavia, eu gostaria tanto de andar pelo meu coração,

Saber o que se passa no escurinho do cinema de mim.
Que filme rodou entre as imagens de rançosas palavras,
As quais (não, eu não!) não sei expressar em Poesia:
o Beijo romântico, piegas, da atriz de novela —
Desfaçatez de Pedra, ilusão de Espelhos?

Embora, eu aprecie o gênero literário da novela,
Não me entretenho com as telenovelas…
Prefiro maquinar sonhos a viver de carona
No riso e na miséria de outrem.
Talvez, por isso, Poesia… Sei lá!

Ultimamente, tento desvendar o meu coração:
O coração do mundo, o coração das coisas,
O coração homérico, o coração de Deus…

É triste e Solidão, a gente ver a folha em branco
E o Lápis cantarolando o mineral das letras cruas
Ou as teclas felizes da vida desvestindo-se nuas,
Brincando de esconde-esconde a lance de dado
Entre o Dedo mindinho e indicador desazado.

Quem encontra quem?
Eu quero ser encontrado também —
A criatura, pelo Criador;
O Criador, pela criatura…

Tece Amor das minhas entranhas
— Estranhas que se aboliram castanhas —,
Tece Amor das minhas narinas
— Em transe de carne por insulina,

Tece Amor ainda que doente esteja,
Caranguejeira que de traição arma
O bote peçonhento à viúva-negra
Na cama… Mas, eu estou prenhe
De Amor… Louco ósculo de Amor!

Salgueiro, 29-11-2008/ 23-6-2009.

Postagens mais visitadas deste blog

A Lei

Rabiscos no Livro

O Cupim e o Trampolim