Passeavas
(Rondó II)
Passeavas entre flores,
Qual cantava sus! canário,
Álacre, entre pedra e rio,
Numa tarde bonançosa.
Umbuzeiro, que te viu,
Abismou e, ao alvedrio,
Protestou muito arredio:
— Que mulher assaz cheirosa!
Que perfume ela usa?
Incendeia esse cenário.
Ela deixa, de ordinário,
As palavras graciosas!
Passeavas entre flores,
Qual cantava sus! canário,
Álacre, entre pedra e rio,
Numa tarde bonançosa.
Eu? Falar o quê de mim?
Prisioneiro de desvario
Serei sempre; e se, por sóbrio,
Logo digo: — Ó mimosa,
Dá-me o nobre coração!
Você, lá, responde no átrio:
— Me desgosta o locatário
De intenção pretensiosa!
Passeavas entre flores,
Qual cantava sus! canário,
Álacre, entre pedra e rio,
Numa tarde bonançosa.
O porquê não sei… Me perco
Entre o lírio e o martírio
Por amar-te em delírio,
Benquerença amorosa!
Porém, és a desalmada
Que me faz sentir calafrio,
Ao pisar em sedentário
Coração sem meigas rosas.
Passeavas entre flores,
Qual cantava sus! canário,
Álacre, entre pedra e rio,
Numa tarde bonançosa.
Por que há tantas malquerenças,
Que a voar vocabulário
Não me pagas o salário?
Então, ver-te vaidosa!
É a paga tão desditosa,
Que me oferta em calvário,
Como magro corolário:
Matemática amorosa!
Passeavas entre flores,
Qual cantava sus! canário,
Álacre, entre pedra e rio,
Numa tarde bonançosa.
Autor: Edigles Guedes.